A s r a í z e s d a n o s s a v i d a
domingo, 30 de maio de 2010
sexta-feira, 28 de maio de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
criadas
Após a morte de meu avô, rapaz muito novo, minha avó casou de novo. Sabe-se, debaixo do ponto de vista económico, por necessidade.
Quanto a este fenómeno, penso que há um critério suicida nestes acontecimentos.
Uma espécie de auto-mutilação que desejaria, mesmo que séculos mais tarde viessem a ser anulados. Neste momento da nossa contemporaneidade, embora o vanguardismo feminino tivesse sofrido um avanço a mulher contínua a servir, se não o homem, a casa e filhos e pais e demais família que seja ascendente e descendente. Atitude de uma força genética extraordinária e quase sedutora, naquilo que chamaria de suicida, pela atracção imposta. Nasci então com um avô emprestado. Figura presente, como uma espécie de S.José no presépio. Mas havia qualquer ingenuidade no nosso relacionamento que me fazia não lhe sentir o poder nem a autoridade devidas. Esse sentimento talvez fosse traduzido pela minha avó numa insconsciência mais profunda do que linear. E penso também que a ausência de amor entre ambos, tivesse acelerado todo o processo de travagem muscular da mãe de meu pai. Transgredindo a barreira da decência do seu harmonioso viver. Eu gostava muito dela e da sua paz no passear devagar.
Um peso no seu olhar e a precipitação estrutural de divagações do pensamento, procuras desencontradas, fizeram com que ela paralisasse no tempo. Tudo lhe escorregava das mãos. E o verbo querer, ausentou-se do seu dicionário. Com as quedas, as perdas e os esquecimentos, a filha conseguiu uma criada. Criada era a adolescente/mulher que vinha de longe de combóio, para ficar em Lisboa e para ser criada por alguém, quase uma espécie de adopção com trocas,devido ao seu desfavorecimento social de berço pobre . Pobre e conveniente inacessibilidade aos academismo de então. Claro que nesta fragilidade havia nelas uma sensualidade como resíduo campestre que abria as suas cores como flores. Postura repleta de diferentes coloridos remetendo ao sentido bucólico e nostálgico este seu modo serviçal e ser modelada e ensinada. Poderia portanto ganhar menos do que o mínimo porque lhe era dada a cama para dormir e a mesa para comer para além do polimento das boas maneiras e modos; mesmo que na cozinha. Tinham normalmente uma farda que eu invejava. Ora preta com folhos brancos e rendas sobre o preto, ou pintas sobre azuis, normalmente claros. Havia também as de riscas. Mas tinham quase sempre uma gola branca que contornava o pescoço, a qual deveria manter-se limpa. Quase todas as criadas cheiravam a potassa ou a sabão. Cheiravam também aos recados e aos magálas (soldados) às papoilas por este tempo, em que os pássaros fazem os ninhos. Sensualidade sedutora que muitas vezes ajudava a iniciação sexual dos mais jovens da casa. Ou não se chamassem elas criadas de servir. Íam servindo para tudo. Há quem ainda hoje se sirva delas. Situação que se comunga como um pacto. Pacto pago à parte, como horas extraordinarias. Só que hoje não vêm de campos do perto; das Beiras, nem do Norte, nem do Sul do nosso país. Normalmente chegam sem Norte, nem do Norte. Vêm do Oeste, de Este, Leste e do Sul do Globo Terrestre. Já não andam com farda e só algumas pessoas as podem ter, servindo-se delas e usufruindo por pagamentos ainda desiguais, esses trabalhos domésticos e domesticados, que agora apenas se denominam "domésticos".Assisti de pequenina a olhá-las desse modo, diferente. E a ter de me calar. E a ler livros e a pintar para me distrair. A injustiça havia-a de muitos modos e jeitos; tão igual a sempre. Vivo num país pobre, e n'outros lugares por onde andei, poucos existem hoje a possuir poderes económicos para sustentarem estas situações. Falo do Norte da Europa, onde é proibido também prender pássaros em gaiolas. Minha avó pareceu-me sempre atingir esse destino de pássaro fechado na gaiola, com uma criada para lhe limpar as grades e ir mudando a água e dando as sementes e as espigas das couves. Talvez odiasse. Aquela criada. Continuou ainda a servir e ser servida na mesma casa, mesmo depois da morte de minha avó. Quando a vejo hoje mais velha do que eu e muito mais desempoeirada, com casa por cá e vivenda na terra de onde veio, penso nas voltas que a vida deu. Ela nunca deveria ter lido um livro e parece-me que tem aquilo a que se chamava a 4ª classe. Mas isso também eu tinha e tenho, se é que ainda vale e ainda terei?!.. É a vida, dizem alguns. Ela compra o ramo de espiga, aos homens e mulheres que a vendem na rua. Uma das nossas diferenças. Dever-se-iam seguir imensas.
Quanto a este fenómeno, penso que há um critério suicida nestes acontecimentos.
Uma espécie de auto-mutilação que desejaria, mesmo que séculos mais tarde viessem a ser anulados. Neste momento da nossa contemporaneidade, embora o vanguardismo feminino tivesse sofrido um avanço a mulher contínua a servir, se não o homem, a casa e filhos e pais e demais família que seja ascendente e descendente. Atitude de uma força genética extraordinária e quase sedutora, naquilo que chamaria de suicida, pela atracção imposta. Nasci então com um avô emprestado. Figura presente, como uma espécie de S.José no presépio. Mas havia qualquer ingenuidade no nosso relacionamento que me fazia não lhe sentir o poder nem a autoridade devidas. Esse sentimento talvez fosse traduzido pela minha avó numa insconsciência mais profunda do que linear. E penso também que a ausência de amor entre ambos, tivesse acelerado todo o processo de travagem muscular da mãe de meu pai. Transgredindo a barreira da decência do seu harmonioso viver. Eu gostava muito dela e da sua paz no passear devagar.
Um peso no seu olhar e a precipitação estrutural de divagações do pensamento, procuras desencontradas, fizeram com que ela paralisasse no tempo. Tudo lhe escorregava das mãos. E o verbo querer, ausentou-se do seu dicionário. Com as quedas, as perdas e os esquecimentos, a filha conseguiu uma criada. Criada era a adolescente/mulher que vinha de longe de combóio, para ficar em Lisboa e para ser criada por alguém, quase uma espécie de adopção com trocas,devido ao seu desfavorecimento social de berço pobre . Pobre e conveniente inacessibilidade aos academismo de então. Claro que nesta fragilidade havia nelas uma sensualidade como resíduo campestre que abria as suas cores como flores. Postura repleta de diferentes coloridos remetendo ao sentido bucólico e nostálgico este seu modo serviçal e ser modelada e ensinada. Poderia portanto ganhar menos do que o mínimo porque lhe era dada a cama para dormir e a mesa para comer para além do polimento das boas maneiras e modos; mesmo que na cozinha. Tinham normalmente uma farda que eu invejava. Ora preta com folhos brancos e rendas sobre o preto, ou pintas sobre azuis, normalmente claros. Havia também as de riscas. Mas tinham quase sempre uma gola branca que contornava o pescoço, a qual deveria manter-se limpa. Quase todas as criadas cheiravam a potassa ou a sabão. Cheiravam também aos recados e aos magálas (soldados) às papoilas por este tempo, em que os pássaros fazem os ninhos. Sensualidade sedutora que muitas vezes ajudava a iniciação sexual dos mais jovens da casa. Ou não se chamassem elas criadas de servir. Íam servindo para tudo. Há quem ainda hoje se sirva delas. Situação que se comunga como um pacto. Pacto pago à parte, como horas extraordinarias. Só que hoje não vêm de campos do perto; das Beiras, nem do Norte, nem do Sul do nosso país. Normalmente chegam sem Norte, nem do Norte. Vêm do Oeste, de Este, Leste e do Sul do Globo Terrestre. Já não andam com farda e só algumas pessoas as podem ter, servindo-se delas e usufruindo por pagamentos ainda desiguais, esses trabalhos domésticos e domesticados, que agora apenas se denominam "domésticos".Assisti de pequenina a olhá-las desse modo, diferente. E a ter de me calar. E a ler livros e a pintar para me distrair. A injustiça havia-a de muitos modos e jeitos; tão igual a sempre. Vivo num país pobre, e n'outros lugares por onde andei, poucos existem hoje a possuir poderes económicos para sustentarem estas situações. Falo do Norte da Europa, onde é proibido também prender pássaros em gaiolas. Minha avó pareceu-me sempre atingir esse destino de pássaro fechado na gaiola, com uma criada para lhe limpar as grades e ir mudando a água e dando as sementes e as espigas das couves. Talvez odiasse. Aquela criada. Continuou ainda a servir e ser servida na mesma casa, mesmo depois da morte de minha avó. Quando a vejo hoje mais velha do que eu e muito mais desempoeirada, com casa por cá e vivenda na terra de onde veio, penso nas voltas que a vida deu. Ela nunca deveria ter lido um livro e parece-me que tem aquilo a que se chamava a 4ª classe. Mas isso também eu tinha e tenho, se é que ainda vale e ainda terei?!.. É a vida, dizem alguns. Ela compra o ramo de espiga, aos homens e mulheres que a vendem na rua. Uma das nossas diferenças. Dever-se-iam seguir imensas.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
A minha Avó Maria da Natividade d'Ávila
A minha Avó faria hoje tantos anos que nem uma filha dela (minha Tia) também já com muita idade, sabe.
Mas tinha uma adoração pela raínha D. Amélia de Orleans; uma paixão que me deixou por momentos confusa no enevoamento das memórias. É que um dia a minha Avó pegou em mim e fomos Chiado adentro à procura do túmulo e funeral da raínha. Esta é a minha guarda. Achei estranho a minha Avó tomar uma decisão destas, atitude e de tão grande volume na época.
Dessa minha guarda memorial, tenho, o andar desfeita de cansaço, R. Garrett acima, e abaixo e Teatros D.Luís e São Carlos. Calçada de S.Francisco, R. do Carmo, Rossio e sei lá se chegámos ao Terreiro do Paço.
Quando hoje temos tanta informação, calculo a frustração de minha Avó não ter conseguido chegar mais perto do seu túmulo. Ela sabia que se tinha de andar devagarinho com as crianças e acompanhar-lhes os passos. Esta foi também uma das minhas 1ªs lições de pedagogia. Anos mais tarde sentia alguma timidez em perguntar se tudo isto teria sido verdade!? Ela já estava perto da raínha, n'outro túmulo e enterrada de uma outra maneira; sem que por isso não se chamasse do mesmo modo, a esse acto a transposição para outra margem da vida, ou passamento, como se diz também da morte da mãe de Jesus, mostrados em quadros com a senhora de face azul. Pouco tempo depois deste transitar na busca, perdi o contacto doce com minha avó pela sua descompensação cerebral; assistindo sempre a todo o acto de ajudas à sua volta sempre na sua casa. Essa atenção veio a causar-me determinantes nas escolhas das minhas funções profissionais e também artísticas. O seu falecimento aconteceu no início da minha adolescencia e senti cedo essa perda de um elemento ancestral.
Mãe e mulher, tive um amigo que me contou esta morte que vêmos no vídeo. Estava já a voltar atrás vendo que a sua morte ocorreu em França; mas consolou-me o seu pedido em voltar ao nosso País. Aqui mostra as suas 2 grandes "grandezas". Minha avó tinha-a numa moldura, uma imponente pose, e muitas outras que ficam no nosso imaginário, familiares que preenchendo o nosso imaginário povoam certamente os nossos sonhos mais estranhos. Pelo que sinto; ela também era uma raínha de "Mim"; pelo que me dava e por como me pegava na mão. Um tal gosto de sermos soberanos.Mas talvez ela tivesse morrido sem o saber, porque ainda sofreu muito antes de isso acontecer. Afinal talvez tivesse afinidades com a raínha.
PS:nesta fotografia estão:-a Cilinha, a avó, a tia/madrinha, o padrinho e o meu irmão João-o mais velho de nós. Sempre pensei que a Cilinha fosse minha prima, porque me dava tantos abraços lavados e magrinhos. E aqueles óculos sempre me pareceram um caleidoscópio por ela via melhor os infantes. Quando a Cilinha partiu para o Brasil fiquei triste, muito triste, embora já fosse grande. Fiquei com os abraços dela e os passos lentos de minha avó a quem hoje presto aqui a minha homenagem discreta. Amanhã enviar-lhe-ei papoilas, ou ainda hoje. Aquilo que começa a ser o restolho dos dias de Junho a aproximar-se do Equinócio.
Mas tinha uma adoração pela raínha D. Amélia de Orleans; uma paixão que me deixou por momentos confusa no enevoamento das memórias. É que um dia a minha Avó pegou em mim e fomos Chiado adentro à procura do túmulo e funeral da raínha. Esta é a minha guarda. Achei estranho a minha Avó tomar uma decisão destas, atitude e de tão grande volume na época.
Dessa minha guarda memorial, tenho, o andar desfeita de cansaço, R. Garrett acima, e abaixo e Teatros D.Luís e São Carlos. Calçada de S.Francisco, R. do Carmo, Rossio e sei lá se chegámos ao Terreiro do Paço.
Quando hoje temos tanta informação, calculo a frustração de minha Avó não ter conseguido chegar mais perto do seu túmulo. Ela sabia que se tinha de andar devagarinho com as crianças e acompanhar-lhes os passos. Esta foi também uma das minhas 1ªs lições de pedagogia. Anos mais tarde sentia alguma timidez em perguntar se tudo isto teria sido verdade!? Ela já estava perto da raínha, n'outro túmulo e enterrada de uma outra maneira; sem que por isso não se chamasse do mesmo modo, a esse acto a transposição para outra margem da vida, ou passamento, como se diz também da morte da mãe de Jesus, mostrados em quadros com a senhora de face azul. Pouco tempo depois deste transitar na busca, perdi o contacto doce com minha avó pela sua descompensação cerebral; assistindo sempre a todo o acto de ajudas à sua volta sempre na sua casa. Essa atenção veio a causar-me determinantes nas escolhas das minhas funções profissionais e também artísticas. O seu falecimento aconteceu no início da minha adolescencia e senti cedo essa perda de um elemento ancestral.
Mãe e mulher, tive um amigo que me contou esta morte que vêmos no vídeo. Estava já a voltar atrás vendo que a sua morte ocorreu em França; mas consolou-me o seu pedido em voltar ao nosso País. Aqui mostra as suas 2 grandes "grandezas". Minha avó tinha-a numa moldura, uma imponente pose, e muitas outras que ficam no nosso imaginário, familiares que preenchendo o nosso imaginário povoam certamente os nossos sonhos mais estranhos. Pelo que sinto; ela também era uma raínha de "Mim"; pelo que me dava e por como me pegava na mão. Um tal gosto de sermos soberanos.Mas talvez ela tivesse morrido sem o saber, porque ainda sofreu muito antes de isso acontecer. Afinal talvez tivesse afinidades com a raínha.
PS:nesta fotografia estão:-a Cilinha, a avó, a tia/madrinha, o padrinho e o meu irmão João-o mais velho de nós. Sempre pensei que a Cilinha fosse minha prima, porque me dava tantos abraços lavados e magrinhos. E aqueles óculos sempre me pareceram um caleidoscópio por ela via melhor os infantes. Quando a Cilinha partiu para o Brasil fiquei triste, muito triste, embora já fosse grande. Fiquei com os abraços dela e os passos lentos de minha avó a quem hoje presto aqui a minha homenagem discreta. Amanhã enviar-lhe-ei papoilas, ou ainda hoje. Aquilo que começa a ser o restolho dos dias de Junho a aproximar-se do Equinócio.
Linguagens marítimas
Praias legendadas no início das madrugadas por imensas aves marinhas cujo destino é ensinar o verbo voar. Nem todos entendem, mas muitos dedicam-lhes imensas horas de estudo e conseguem de mansinho subir mais alto em muitos momentos de quietude.
Devagar, também as penas começam a roçar os ombros, acto para o qual é necessária muito sossêgo com um especial adormecimento.E é bom que seja no fim do dia ou nas manhãs de neblina, para que não se ouça o menor ruído. Melhor nos equinócios das grandes vazantes, onde e quando a areia molhada se torna um extenso areal húmido repleto de estrêlas e conchas raras.
Vantagem para as crianças que têm mãos pequeninas e sabem tocar devagar sem nada partir, com dialogos facilitadores para com os animais que melhor entendem as suas linguagens.
Devagar, também as penas começam a roçar os ombros, acto para o qual é necessária muito sossêgo com um especial adormecimento.E é bom que seja no fim do dia ou nas manhãs de neblina, para que não se ouça o menor ruído. Melhor nos equinócios das grandes vazantes, onde e quando a areia molhada se torna um extenso areal húmido repleto de estrêlas e conchas raras.
Vantagem para as crianças que têm mãos pequeninas e sabem tocar devagar sem nada partir, com dialogos facilitadores para com os animais que melhor entendem as suas linguagens.
Lições e lendas douradas
entimos então que na próxima partida muitas coisa vão tornar a acontecer sem que tivéssemos pedido tanta transformação. Nada estava escrito nos livros que lêmos, que nos contaram tão enxuta e linearmente.
Um dia um cogumelo volatilizou-se sobre um livro.
Deixou apenas uma poalha preta que fazia medo cheirar. A sensação era de que se cheirassemos um cogumelo se transformaria dentro de nós.
Sim, por aí umas invenções nos apaziguávam os temores. Mas a verdade, sobre as separações e as mortes tinham sempre um final muito mais feliz. E apesar de nunca ter acreditado que quando se morria se ia para o céu; tinha um enorme pavor quando olhava para os astros, sobretudo à noitinha que todos começassem a cair, sem licença.
Um dia um cogumelo volatilizou-se sobre um livro.
Deixou apenas uma poalha preta que fazia medo cheirar. A sensação era de que se cheirassemos um cogumelo se transformaria dentro de nós.
Sim, por aí umas invenções nos apaziguávam os temores. Mas a verdade, sobre as separações e as mortes tinham sempre um final muito mais feliz. E apesar de nunca ter acreditado que quando se morria se ia para o céu; tinha um enorme pavor quando olhava para os astros, sobretudo à noitinha que todos começassem a cair, sem licença.
Etiquetas:
Para onde vão os mortos,
quando não ficam connosco?
terça-feira, 25 de maio de 2010
Quando se parte e quando se regressa
Quando partimos dos nossos lugares pouco nómadas, muito sedimentados por variadíssimas raízes penetrantes e, um dia voltamos tudo nos parece pequeno e estranhamente sóbrio e quieto. Há um crescimento em nós, quase de muitos tamanhos; físicos e mentais. Mal cabemos nas ruas e nas antigas portas de casa.
Modificam-se as dimensões internas e externas e as vozes da comum linguagem torna-se menos conhecida. Passamos a ser estrangeiros, ou emigrantes. Alguns familiares desaparecem na nossa ausência e outros nascem e ainda outros tornam-se maiores pelo seu normal desenvolvimento dan integridade do crescer. Afinal havia tios que não eram bem tios, e avós que foram emprestados. Nós não tinhamos tido conhecimento das verdadeiras guerras e ausências. As mulheres sabiam guardar segredos das doenças, das ausências e fugas. Também das chegadas e partidas, mas sempre contadas como contos e mitos. Bastava ser criança para se acreditar.
Modificam-se as dimensões internas e externas e as vozes da comum linguagem torna-se menos conhecida. Passamos a ser estrangeiros, ou emigrantes. Alguns familiares desaparecem na nossa ausência e outros nascem e ainda outros tornam-se maiores pelo seu normal desenvolvimento dan integridade do crescer. Afinal havia tios que não eram bem tios, e avós que foram emprestados. Nós não tinhamos tido conhecimento das verdadeiras guerras e ausências. As mulheres sabiam guardar segredos das doenças, das ausências e fugas. Também das chegadas e partidas, mas sempre contadas como contos e mitos. Bastava ser criança para se acreditar.
domingo, 23 de maio de 2010
Domingos
Nesta fotografia aconteceu-me o mesmo que ao "Saudade",o cão de que falei ontem. Penso que o meu corpo, estava aqui, mas como o cão, não deveria poder tirar fotografias,estaria portanto à volta de quem captou esta imagem. Às câmeras fotográficas, chamávamos "máquinas". Máquinas fotográficas, é claro; embora elas fossem bem escuras como denominador comum. As camêras hoje têm muitas cores e formas o que nos avilta um espiríto de inveja e sedução, aquele do provérbio «a galinha da minha vizinha é melhor do que a minha». E o que acontece é que nós é que damos alma e força anímica a tudo quanto nos rodeia, quer pelo nosso entendimento macio com as coisas, quer porque as tocamos e suavemente lhes vamos dando e recebendo dessa invísivel matéria.Portanto nem vale a pena querer muito. Elas(as máquinas fotográficas) eram de facto pesadas, como se fossem um caixote carregado de negros mistérios que guardavam imagens mágicas. Tinham na parte à qual designávamos frente, uma abertura de 45% para de lá sair uma espécie de escadote pequeno, o fole como um harmónio sem som que me fazia sentir uma curiosidade de esticar os pés para saber como, onde e quando seria o tempo de poder tocar naquele ôco, vazio que tão secretamente guardava os milagres sem nenhuma santidade à volta desta família. Apenas um destino simples de passear pelos campos aos domingos quanto mais longe melhor. Embora o longe pudesse ter um perímetro igual ao que se denomina hoje a grande Lisboa. Belas, Vila Franca de Xira, Cacilhas, Sintra ou Azenhas do Mar, eram uma aventura de distancia, quer no que respeita aos carros, quer no que respeita aos caminhos e atalhos. Das fotografias guardo algum prazer da espera, aquele tempo desigual, ao de hoje, o do imediatismo quase como uma birra de criança que quer o objecto tão imediatamente, como o do pensamento de o desejar e querer, sem tempo de diálogo e de fé, como quem diz de esperança. Também dos que ficavam mal na imagem, e ou de cara para trás, ou que fugiam sem paciencia...Ou como o Saudade, ou como eu, se faziam grandes histórias de volta.
sábado, 22 de maio de 2010
Saudade
O cão era o Saudade.
Ou SAUDADE era o nome do cão do meu primo Aurélio, com quem andávamos muito. Embora neste próximo andar estivesse o longe e a distância.
Nunca consegui esquecer o Saudade.Todas as histórias que me contavam acerca de tudo acreditava, até há muito pouco tempo.
Cada um tem a sua forma de contar as verdades ,mentindo e dizendo o que quer. E não e sabe o que quer, e, mesmo sabendo corre ao sabôr do que nem queria dizer, sem saber que disse e o que não queria ter dito.O inconsciente percorre as veias de forma complexa e incógnita.
Assim, na infância a aprendizagem pode ter os mais diversos e divagantes universos sequenciais. Tomei como princípio que o Saudade estava aqui e isso acaba por demonstrar, o que acabo de descrever. O Saudade está aqui e não está (na fotografia)devia ter ído dar uma volta, ou está junto de meu pai que nos captou a imagem.
Como é que isto é possível?! Todos nós sabemos. É como a pessoa que nos capta a imagem; é a que está mais presente e a que menos se vê. Até se ignora. Mas, se não fossem as imagens muita da História se perderia. Tal como a Iconografia está para a Pintura e a Ipigrafia para as palavras escritas nas pedras monásticas.
Um dia o Saudade desapareceu. Dias em que o meu ser, embora tendo já integrado as mortes, ainda não percebia muito bem os desaparecimentos nem as falências e processos de transposição dessas fronteiras. Disseram-me que o Saudade tinha caído pelas arribas abaixo. Fiquei toda a vida a olhar para as arribas e falésias com o Saudade a rebolar por ali abaixo e sempre com a esperança de que um animal não poderia nunca cair assim; Teria ído "de corridinha", mas acreditei. Mas também duvidei!?... De uma e outra forma aprendi logo muito melhor A Saudade...e o que nos fica e fixa a outros momentos e a outras saudades e perdas...
Ou SAUDADE era o nome do cão do meu primo Aurélio, com quem andávamos muito. Embora neste próximo andar estivesse o longe e a distância.
Nunca consegui esquecer o Saudade.Todas as histórias que me contavam acerca de tudo acreditava, até há muito pouco tempo.
Cada um tem a sua forma de contar as verdades ,mentindo e dizendo o que quer. E não e sabe o que quer, e, mesmo sabendo corre ao sabôr do que nem queria dizer, sem saber que disse e o que não queria ter dito.O inconsciente percorre as veias de forma complexa e incógnita.
Assim, na infância a aprendizagem pode ter os mais diversos e divagantes universos sequenciais. Tomei como princípio que o Saudade estava aqui e isso acaba por demonstrar, o que acabo de descrever. O Saudade está aqui e não está (na fotografia)devia ter ído dar uma volta, ou está junto de meu pai que nos captou a imagem.
Como é que isto é possível?! Todos nós sabemos. É como a pessoa que nos capta a imagem; é a que está mais presente e a que menos se vê. Até se ignora. Mas, se não fossem as imagens muita da História se perderia. Tal como a Iconografia está para a Pintura e a Ipigrafia para as palavras escritas nas pedras monásticas.
Um dia o Saudade desapareceu. Dias em que o meu ser, embora tendo já integrado as mortes, ainda não percebia muito bem os desaparecimentos nem as falências e processos de transposição dessas fronteiras. Disseram-me que o Saudade tinha caído pelas arribas abaixo. Fiquei toda a vida a olhar para as arribas e falésias com o Saudade a rebolar por ali abaixo e sempre com a esperança de que um animal não poderia nunca cair assim; Teria ído "de corridinha", mas acreditei. Mas também duvidei!?... De uma e outra forma aprendi logo muito melhor A Saudade...e o que nos fica e fixa a outros momentos e a outras saudades e perdas...
sexta-feira, 21 de maio de 2010
A minha praia no meu pensamento
Tive Pais; Muito pai, muito mãe e muitos à volta. Alguns silêncios algumas discussões, as quais me sentia longe de classificar. O silêncio descodifícavel vivia secretamente em mim, longe de lhe dar nomes tamanhos e formas. Em certos momentos mais fantasiosos, fui criando seres substitutos nas dimensões do mundo Natural, sem olhar a crenças, nem a títularidades. Um acto puramente sensitivo e determinante que foi tomando conta de tudo e todos que pricipiaram por estranhar o meu sossêgo, o qual também dava descanso porque não era incómodo.As ondas eram uma espécie de dádiva que bem poderiam lembrar os pais;- tristes ou furiosos, consoante as marés. As poças de água e os buracos na areia, lembravam-me sempre a insatisfação de meus irmãos. Nunca se deixavam modelar. A água teimava sempre em recuperar o espaço e todo o volume retirado voltava, como se não se tivesse cumprido nada. Desejei sempre considerar tudo semelhante a tudo. E até começei a ver as pessoas com o mimetismo Animal. A praia que frequentávamos era das pessoas da aldeia (não nossa) que se admiravam dos nossos fatos de banho. E que simplesmente iam para lá para uma respigação das rochas repletas de moluscos,que se agarravam às rochas como as lapas, os mexilhões e outros, como pequenos polvos, dos quais sempre senti pena por lhes roubarem os habitats.
Apenas aos domingos as mulheres e os homens iam à praia e apenas faltava tomarem banho de sapatos. Levavam as combinações: "lingerie" da época, feita de linho ou algodão. Verbo do erótico, muito mais sensual do que os nossos fatos de banho. Manifestavam também gestos e posturas ternas de timidez e pequenas ousadias com as ondas o que dava ao cenário o cheiro a pão misturado com o aroma da caruma nos fornos que tinham preparado na véspera. A água salgada com o fogo feito por elas. Parecia que se iam purificar tal, Fénix e Danaé, na perfeição mítica do sagrado.
Os sábados eram magnificos, porque tinham esse ritual de um pão que nunca mais comi. Uma espécie de colchão amassado com mãos de farinha que se ia buscar ao moínho, onde desejava dormir. Assim fui deslocando todas as ligações com os ascendentes para o coração destas terras de ingenuidade e transparência, onde moravam grandes brumas nas madrugadas. Tomando consciencia de outras longitudes e latitudes; tendo-me sido garantida e cumprida a liberdade para novos caminhos. Cedo descobri o horizonte, o Poente e o Norte. Uma solidão que sempre teve o sabor a humanidade.A estrela polar e as constelações, jogos preferênciais nas noites sem luzes eléctricas. Aqui apenas haviam eiras redondas, onde se cantavam canções às raparigas que já tinham mostrado os corpos d'água e amor. O cheiro, o pêlo e os focinhos de veludo dos burros encantavam-me, tal como as albardas consistentemente feitas de palha.Saltávamos para os muros lógicos de pedra subindo pelos intervalos para saltar para cima do burro. Àquela escala deveria ainda pensar que estava sobre um cavalo, mas existiam mais castelos na espuma onírica das ondas, do que princípes nos castelos de areia. Assim fui crescendo num universo de pensamentos mágicos com grande sustentabilidade no real.
Apenas aos domingos as mulheres e os homens iam à praia e apenas faltava tomarem banho de sapatos. Levavam as combinações: "lingerie" da época, feita de linho ou algodão. Verbo do erótico, muito mais sensual do que os nossos fatos de banho. Manifestavam também gestos e posturas ternas de timidez e pequenas ousadias com as ondas o que dava ao cenário o cheiro a pão misturado com o aroma da caruma nos fornos que tinham preparado na véspera. A água salgada com o fogo feito por elas. Parecia que se iam purificar tal, Fénix e Danaé, na perfeição mítica do sagrado.
Os sábados eram magnificos, porque tinham esse ritual de um pão que nunca mais comi. Uma espécie de colchão amassado com mãos de farinha que se ia buscar ao moínho, onde desejava dormir. Assim fui deslocando todas as ligações com os ascendentes para o coração destas terras de ingenuidade e transparência, onde moravam grandes brumas nas madrugadas. Tomando consciencia de outras longitudes e latitudes; tendo-me sido garantida e cumprida a liberdade para novos caminhos. Cedo descobri o horizonte, o Poente e o Norte. Uma solidão que sempre teve o sabor a humanidade.A estrela polar e as constelações, jogos preferênciais nas noites sem luzes eléctricas. Aqui apenas haviam eiras redondas, onde se cantavam canções às raparigas que já tinham mostrado os corpos d'água e amor. O cheiro, o pêlo e os focinhos de veludo dos burros encantavam-me, tal como as albardas consistentemente feitas de palha.Saltávamos para os muros lógicos de pedra subindo pelos intervalos para saltar para cima do burro. Àquela escala deveria ainda pensar que estava sobre um cavalo, mas existiam mais castelos na espuma onírica das ondas, do que princípes nos castelos de areia. Assim fui crescendo num universo de pensamentos mágicos com grande sustentabilidade no real.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Parabéns para quem fez e faz anos, com Kupka
segunda-feira, 17 de maio de 2010
OUTROS CULTOS
Já contei aqui sobre o assediar meu pai à religião católica do padre. Em vista, e por oposição demarcada quase como um mapa geográfico, meu pai tinha objectivos muito diferentes, e com uma outra vastidão. Evidentemente até este momento bastante mais difícil de concretizar num simples acto. A Escola Nocturna nasceu assim da vontade de um grupo, que estava contra o analfabetismo. Não era um grupo grande, mas activo que dinamizou uma associação convidando o profº Agostinho da Silva para colaborar e visitar o lugar. Assim herdei através de meu pai, alguns dos seus primeiros Cadernos Culturais, divulgados nesse tempo que tinham de se cortar com um corta-papéis. Peça que deixou de existir, e que normalmente se dava às crianças como um brinquedo para cortarem os livros aos pais. Desastre que não chegava a ser ecológico, mas como o papel era rude e grosseiro muitas das páginas ficavam com um corte parecido ao das gengivas dos primeiros dentes de leite, ou a qualquer instrumento de corte para madeira mal afiado já em desuso. Abrir um livro não era tarefa fácil. Muito semelhante à aprendizagem da leitura quando já se é adulto. E, se por um lado se era adulto por iniciações precoces de trabalho e responsabilidade, por outro o binómio saber e aprender a ler eram inversos. Se se aprendesse uma profissão, não se poderiam continuar os estudos; se se continuassem os estudos não se aprendia a profissão. Daí o nascimento da escola nocturna para os que trabalhavam poderem ir aprender a ler os signos e descodificar os significados. Do interesse dado aquele movimento, e dada a ingenuidade, cheguei a pensar que a escola seria do grupo fundador, entre eles, meu pai. Como diz o Edward T. Hall todo o Homem quer ser dono ou rei de qualquer coisa. Assim foi descoberta uma tribo em África onde havia um rei de caricas. Aquilo que nossos pais fazem, fazem-nos também a nós, de duas ou mais maneiras e modos: ou desejamos ardentemente imitá-los, ou reagimos por oposição aos seus princípios e conceitos. Outras vezes não temos equilíbrios, nem balanças e perdemo-nos em vagos esquecimentos como seres comuns, amorfos ou fugídios, como se a luminosidade nos coalhasse o horizonte com um toldo desnecessário. Esta escola que anos mais tarde nem se sabia a quem pertencia; e embora eu tivesse guardado os estatutos, veio a servir para reuniões sem nenhuma clandestinidade depois de Abril, até terem usurpado o bonito busto da républica. Dos anos 1930 a 50,ensinou quem tinha necessidades académicas e a quem e para quem esse instrumento foi tido como princípio facilitador de mecanismos iniciais da cognição. Lá nunca aprendi. Mas foi um castelo de forças reunidas e coragem que me ensinaram. Por isso quando ainda toco aquelas paredes e desenho os seus contornos, nem é a cal que sinto nos dedos nem o olhar que persegue a linha que registo no papel, mas sim um castelo, ou mesmo apenas uma pousada de ousadia que reforçam o meu imaginário de conhecimento e conforto. Estando mesmo o edifício fechado. Abandonado apenas como observatório do passado.
Tate Britain: British Art from 1500
Tate Britain: British Art from 1500
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Henry Moore é sempre imperdível.
Pessoalmente sou apaixonadíssima pelos seus desenhos, oa quais não sei se aqui estarão porque ainda não olhei tudo, como que desfolhando um livro onde não é preciso cortar as suas folhas.
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Henry Moore é sempre imperdível.
Pessoalmente sou apaixonadíssima pelos seus desenhos, oa quais não sei se aqui estarão porque ainda não olhei tudo, como que desfolhando um livro onde não é preciso cortar as suas folhas.
Câmara Clara - RTP
Câmara Clara - RTP
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Ontem não vi a Clara Moura Pinheiro, nem o seu programa que raramente tem convidados indesejáveis. Hoje vi aqui pela 1ª vez , como se vê o TED.
E pensei na comunhão de valores e interesses. Imperdível para quando tiverem oportunidade.
Porque hoje às 2H da manhã é mesmo para ninguém ver, nem olhar.
Este programa demora uma hora; sugeri qualquer coisa como uma Sheerazade, para ser dado como Soap Opera.
Comentei com uma rábula por todos os terem nos seus nomes árvores e vales. Ou seja fiz um cenário com uma paisagem, dado que tudo tão sagrado me levou até ao Jardim do Paraíso.
C. M. Pinheiro
Fernando A.B.Pereira
Paulo P. do Vale
Um belíssimo Vale com 2 boas Árvores: 1 Pereira e um Pinheiro
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Ontem não vi a Clara Moura Pinheiro, nem o seu programa que raramente tem convidados indesejáveis. Hoje vi aqui pela 1ª vez , como se vê o TED.
E pensei na comunhão de valores e interesses. Imperdível para quando tiverem oportunidade.
Porque hoje às 2H da manhã é mesmo para ninguém ver, nem olhar.
Este programa demora uma hora; sugeri qualquer coisa como uma Sheerazade, para ser dado como Soap Opera.
Comentei com uma rábula por todos os terem nos seus nomes árvores e vales. Ou seja fiz um cenário com uma paisagem, dado que tudo tão sagrado me levou até ao Jardim do Paraíso.
C. M. Pinheiro
Fernando A.B.Pereira
Paulo P. do Vale
Um belíssimo Vale com 2 boas Árvores: 1 Pereira e um Pinheiro
domingo, 16 de maio de 2010
Perseguições imaginárias
Vários são os cenários vivenciados nas nossas vidas. Uns perssecutórios e outros nos bastidores, amenos e sem cenários. Tal como as rochas, somos feitos de matéria, de vários nomes, só que a nossa é pensante, e dos núcleos complexos que devem competir internamente a ver quem ganha o quê? E porquê? Sou constantemente perseguida, como ia a dizer por figuras que sempre pensei que de tão feias poderiam transformar-se em Princípes e Princesas. E isto deve ser daquele imaginário colectivo e insconciente fantástico que os gregos e os romanos inventaram. Pois antes e antes desse antes, pouco sabemos. Sempre adorei os grotescos, com grande encantamento e contemplação. Evidentemente, desde que nasci.Nasci em casa, e segundo dizem a parteira arranjou entre a água quente e a fria, uma bacia de água quente que estava demasiadamente quente. Já teria aquela tendência para o banho turco, e de facto quando a conheci mais tarde, não a considerava de grande beleza. Contudo gostava dela,apesar da suspeita de que me poderia ter morto, sem que nada modificasse o mais e menos quente e do jeito com que ela me ajudou a nascer. Mas as crianças são tal e qual os cães e os gatos; serve-lhes qualquer raça, qualquer idade, qualquer afecto e qualquer religião. Apurados como divinos, assim deveríamos continuar pela vida fora como aqueles cães que seguem animadamente a carroça sem perguntarem para onde vão. O mesmo se passa com os desenhos antes de se chegar a um tempo em que os riscos terão de ser mais horizontais ou mais verticais; embora aqui, neste ponto tivesse tido uma fada mágica que me tivesse dito para continuar como quisesse.
Mas o símbolo mágico que me trás aqui hoje é uma casa vernácula como a minha com uma especial família. (talvez fossemos e sejamos todos especiais, ainda agora)!A principal figura da casa era a "Taquinha", uma senhora já de cabelo branquinho (tudo era em "inho", naquela casa) atado com um carrapito junto à nuca; com muitos filhos e sem visibilidade marital. Homens e mulheres de dimensões muito inferiores às da nossa família, o que tornava grande a casa, porque todos eles eram pequeninos e não tocavam em nada, embora todo o interior fosse de concepção design. Nome estranho na época, para os analfabetos, que nem as letras podiam juntar, fossem elas qual fossem. Todos giravam na casa e a casa parecia girar neles, numa fala dialogada, como se entrassem e saíssem pelas paredes e nem precisassem de portas. A Alice, isto é verdadeiro, não é a história do Lewis Caroll que também não tem este nome, seria quanto a mim a filha mais velha. Depois havia o Albino,o Jaime, o Zé Manel e o Amilcar. Talvez a minha avó me levasse aquela casa por causa da dinâmica, da assépcia e talvez ainda, porque muitas vezes lhes íamos entregar uma panelinha com sopa. Deviam comer poucochinho e destes não me lembro se tinham quintal. Mas uma sala grande onde havia o estritamente essencial, com um pavimento de tábuas corridas ,lavado com sabão amarelo, cujo cheiro sempre me entrava pelas narinas adentro a saber a acabado de chegar. O desígnío da função precisa e instrumento biodiverso. O Zé Manel era o único que tinha a tentação interventiva do social. Às vezes aparecia nos bailes,e nos cinemas e adormecia. Devia ficar estonteado mesmo ainda naquela altura, que a sonoridade seria inatíngivel aos tímpanos. Mas sempre senti uma ternura especial por aquela gente, apesar de num quarto fundo, ao lado, à esquerda ou à direita houvesse uma criatura acamada, a Palmirinha,-que neste momento teria sido já sinalizada, rotulada com um nome que sei (se fosse deputada política di-lo-ia já) a qual se sentava e balanceava o corpo e lançava uma bola de uma para a outra mão, num sorriso constante. Esta rapariga sempre vestida de branco, determinou em mim um grotesco, uma personagem da Idade das Trevas. Os desenhos e as pinturas que não me largavam associavam-se simultâneamente aos figurantes do meu país de fantasmas por quem era perseguida e a quem eu perseguia. O grande "Escangalhado" a "Taquinha"e os seus filhos, eram os meus "Guliver"; ou melhor: a cidade de Lilliput. Mais havia, uns com mais delicadeza outros com menos, como que saídos do barro mal amassado e cozido em altos fornos desajeitadamente. Não me parece que tivessem sido reprodutores. Não lhes conheço descendencia e, ainda hoje quando pergunto a alguém mais antigo da terra, se sabe que nome seria o da Taquinha, ninguém sabe. Não deixaram nenhum rasto, a não ser pelo menos que eu saiba. Este sim, o da minha memória. Foram como uma estrela cadente. Apagaram-se no sonho e na ilusão de uma eternidade inexistente.
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Taquinha
A Sra. D. Celeste
Morei também neste local. Todos os dias tocavam grandes sinos e havia sempre o Pôr-do Sol, imenso e de todas as cores até acabar.
Vivi numa casa alugada, onde a sra.D. Celeste apenas me deixava tomar banho uma vez por semana. Mas, apesar disso esse banho era uma imensa história porque era um pouco antes daquela decisão que nós pensamos (mm depois do outro nos ter ensinado) do Sol ir descendo, ao contrário da verdade do lento Movimento da Terra.Então este ritual, era revestido de momentos religiosos que guardo em secretos cofres. Não me lembro quantas cafeteiras de água a ferver eram precisas para levar, subindo para o sotão imenso e lavado, com um óculo numa das paredes triangulares por onde entrava a luz zenital como uma lente de câmera fotográfica. Era como se o Sol me fotografasse a mim e eu a ele, numa estendível comunhão. O sótão era quente, nem me lembro se de telha vã. A banheira grande com patas zoomórficas, pousadas na madeira de tábuas corridas, sempre me deram a sensação de ser, ou Jonas, ou o Pinóquio dentro da baleia. Qualquer aveludado corporal, ôrganico e íntegro , o dia da diferença e inteira a sensualidade com toda a água, a luz solar,o vapor quente (ignorando ainda o banho turco), imaginação ao espaço de libertação como uma rã que se evapora e por direito se esconde debaixo dos nénufares. Aqui morava também a minha decisão de mudança. Um gosto selvagem e diferente de estar e de ser, embora numa inquietação sossegada e triste; sei que tudo isto faz por agora anos, porque os campos enchiam-se de papoilas e o trigo já ia grande, tendo de passar por caminhos rente a ele que me ensinaram culturas universais e odores inesquecíveis, o vento falava com os cereais, e ele respondia em ondas semelhantes ao mar e às marés. Nada estava longe. O oceano ouviasse em dias de tempestade. Mas os sinos podiam quebrar-lhe a violência sonora. O sotão talvez tivesse dois círculos: um virado a Nascente e outro a Poente, situados em ambas as paredes triangulares que sustentavam as duas águas do telhado como uma tenda gigante. Do lado Nascente, com a porta que dava para a rua, toda a parede era revestida de azulejos. Para Poente havia um Jardim com árvores de fruto. A Sra. gostava de ir à missa; era discreta e tinha um ar engraçado, partilhávamos ambas de alguma timidez e distância.Com tudo que já tinha aprendido, convidava-a para irmos ao cinema, as poucas vezes que o cinema acontecia naquele lugar. E assim fomos dividindo alguns gostos e desgostos.
Vivi numa casa alugada, onde a sra.D. Celeste apenas me deixava tomar banho uma vez por semana. Mas, apesar disso esse banho era uma imensa história porque era um pouco antes daquela decisão que nós pensamos (mm depois do outro nos ter ensinado) do Sol ir descendo, ao contrário da verdade do lento Movimento da Terra.Então este ritual, era revestido de momentos religiosos que guardo em secretos cofres. Não me lembro quantas cafeteiras de água a ferver eram precisas para levar, subindo para o sotão imenso e lavado, com um óculo numa das paredes triangulares por onde entrava a luz zenital como uma lente de câmera fotográfica. Era como se o Sol me fotografasse a mim e eu a ele, numa estendível comunhão. O sótão era quente, nem me lembro se de telha vã. A banheira grande com patas zoomórficas, pousadas na madeira de tábuas corridas, sempre me deram a sensação de ser, ou Jonas, ou o Pinóquio dentro da baleia. Qualquer aveludado corporal, ôrganico e íntegro , o dia da diferença e inteira a sensualidade com toda a água, a luz solar,o vapor quente (ignorando ainda o banho turco), imaginação ao espaço de libertação como uma rã que se evapora e por direito se esconde debaixo dos nénufares. Aqui morava também a minha decisão de mudança. Um gosto selvagem e diferente de estar e de ser, embora numa inquietação sossegada e triste; sei que tudo isto faz por agora anos, porque os campos enchiam-se de papoilas e o trigo já ia grande, tendo de passar por caminhos rente a ele que me ensinaram culturas universais e odores inesquecíveis, o vento falava com os cereais, e ele respondia em ondas semelhantes ao mar e às marés. Nada estava longe. O oceano ouviasse em dias de tempestade. Mas os sinos podiam quebrar-lhe a violência sonora. O sotão talvez tivesse dois círculos: um virado a Nascente e outro a Poente, situados em ambas as paredes triangulares que sustentavam as duas águas do telhado como uma tenda gigante. Do lado Nascente, com a porta que dava para a rua, toda a parede era revestida de azulejos. Para Poente havia um Jardim com árvores de fruto. A Sra. gostava de ir à missa; era discreta e tinha um ar engraçado, partilhávamos ambas de alguma timidez e distância.Com tudo que já tinha aprendido, convidava-a para irmos ao cinema, as poucas vezes que o cinema acontecia naquele lugar. E assim fomos dividindo alguns gostos e desgostos.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Work :: Milenko Prvacki :: Singapore Artist :: Postmodern Painter, Monumental Painting, Mosaic, Sculpture, Mural, Integrated Art, Interior Design
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Dia da Espiga
quarta-feira, 12 de maio de 2010
terça-feira, 11 de maio de 2010
agora é moda Magoito (1 maravilha em extinção)
Não, não era eu, não nasci
em 13,como diz o M. Esteves Cardoso, mas
também ía no burro da
Margarida
para esta mesma praia.
O Burro ficava a comer erva fresca que nascia salgada da junção da água do mar com a água que corria do Rio da Mata, até à foz daquela milagrosa
Praia, para onde só se podia ir a pé. Não havia lá ninguém, sobretudo nas manhãs de brumas e segredos de gaivotas e patos marinhos que deixavam as suas marcas triangulares e palmares na areia virgem. Nesse tempo não acreditava que houvesse,
nem praias mais bonitas, nem lugares mais existênciais e invulgares. Tudo aquilo era uma espécie de paisagem parental para mim.
em 13,como diz o M. Esteves Cardoso, mas
também ía no burro da
Margarida
para esta mesma praia.
O Burro ficava a comer erva fresca que nascia salgada da junção da água do mar com a água que corria do Rio da Mata, até à foz daquela milagrosa
Praia, para onde só se podia ir a pé. Não havia lá ninguém, sobretudo nas manhãs de brumas e segredos de gaivotas e patos marinhos que deixavam as suas marcas triangulares e palmares na areia virgem. Nesse tempo não acreditava que houvesse,
nem praias mais bonitas, nem lugares mais existênciais e invulgares. Tudo aquilo era uma espécie de paisagem parental para mim.
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de e do Magoito,
Magoite
segunda-feira, 10 de maio de 2010
domingo, 9 de maio de 2010
quarta-feira, 5 de maio de 2010
A Criação
Nunca acreditei na criação do Homem através de qualquer "mãozinha"; como este toque mágico de deus criando a primeira criatura humana representada na Capela Sistina, mais tarde saberemos se, pelas mãos de Miguel Angelo, apesar de em todas e qualquer imagem reconhecesse uma energia e força que invejava qualquer outro crente. No que sempre acreditei e isso sim foi no poder concreto da execução de uma Obra.
Sagrada ou profana, realizada em qualquer lugar e em todos os tempos que a visibilidade histórica nos permitiu olhar. A força do artista que cria a Obra inventa e reinventa. O Modelo vivo tanto pode ser o homem ou mulher que passa, como o padeiro, ou o carpinteiro; ou ainda muitos homens num apenas, representando um único e até identificado com o próprio artista que lhe vai transmitindo o corpo e a personalidade.
Sagrada ou profana, realizada em qualquer lugar e em todos os tempos que a visibilidade histórica nos permitiu olhar. A força do artista que cria a Obra inventa e reinventa. O Modelo vivo tanto pode ser o homem ou mulher que passa, como o padeiro, ou o carpinteiro; ou ainda muitos homens num apenas, representando um único e até identificado com o próprio artista que lhe vai transmitindo o corpo e a personalidade.
terça-feira, 4 de maio de 2010
abelhas, joaninhas, lagartas e lagartos
Era diabólico o pulsar das flores a rebentar a terra e a eterna ternura quase maliciosa entre elas; uma sensualidade propagada entre todos nós, os viventes. À escala humana a flora é à dimensão da criança, o que a realiza uma sua igual.
Parceria do mesmo condomínio a registar a mesma entrada e a semelhante paga.
Diferentes coloridos eram implícitos nas divisões dos espaços, situação a demonstrar diferentes identidades e localizações.
Parceria do mesmo condomínio a registar a mesma entrada e a semelhante paga.
Diferentes coloridos eram implícitos nas divisões dos espaços, situação a demonstrar diferentes identidades e localizações.
Ir à espiga era um acto sagrado pela representação identitária e mítica do Pão denunciado através da espiga e dos seus grãos tão aninhados como verticais. O sonho deambulante de quem quer viver em labiríntos profundos e espiralados. Os pintores e
poetas por lá também viviam sem medo e sem pressa. Era um mar de trigos e flora d'outros inícios.Maio era já difuso, omês das rosas e dos sonhos a Verão com um misto e mítico deambular semelhante a quem inicia o desejo de se sentar num cadeirão de campo a ver o mar, ou as serras.
Maio era o amor que chegava para ficar, sem duvidas ou questões. O apaziguamento do coração.
A Fé nas coisas simples e toda a inegável beleza dos universos minúsculos. Como as formigas e as abelhas; as aranhas e todas as respectivas tarefas destes brilhantes animais. O desencadeamento de sucesso de tudo quanto criam e ao que se dedicam.
Maio era o amor que chegava para ficar, sem duvidas ou questões. O apaziguamento do coração.
A Fé nas coisas simples e toda a inegável beleza dos universos minúsculos. Como as formigas e as abelhas; as aranhas e todas as respectivas tarefas destes brilhantes animais. O desencadeamento de sucesso de tudo quanto criam e ao que se dedicam.
Os Dias das Mães
O dia que inventaram das mães, para mim, é igual à «A Espuma dos Dias»(do Boris Vian.) Uma vontade que se levanta com o amor e se baixa com o Outro. Uma tempestade no mar que se esbarra na areia até ao fim, um fim como uma eternidade transformada na espuma que volta de novo para o mar; uma útil inutilidade da Criação, tempestuosa, agitada num comum eterno e espumoso final, absorvido pelas areias que nos esperam à beira-mar. Uma espuma desfeita pelo Sol, pela madrugada e pelas aves marinhas... Um éter também absorvido pelas ventanias nocturnas.
Um desaparecimento da figura na bruma do final dos dias.
Um doce esmagamento, numa escala definitivamente indefinida
Um desaparecimento da figura na bruma do final dos dias.
Um doce esmagamento, numa escala definitivamente indefinida
sábado, 1 de maio de 2010
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