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quarta-feira, 26 de maio de 2010

A minha Avó Maria da Natividade d'Ávila


A minha Avó faria hoje tantos anos que nem uma filha dela (minha Tia) também já com muita idade, sabe.
Mas tinha uma adoração pela raínha D. Amélia de Orleans; uma paixão que me deixou por momentos confusa no enevoamento das memórias. É que um dia a minha Avó pegou em mim e fomos Chiado adentro à procura do túmulo e funeral da raínha. Esta é a minha guarda. Achei estranho a minha Avó tomar uma decisão destas, atitude e de tão grande volume na época.
Dessa minha guarda memorial, tenho, o andar desfeita de cansaço, R. Garrett acima, e abaixo e Teatros D.Luís e São Carlos. Calçada de S.Francisco, R. do Carmo, Rossio e sei lá se chegámos ao Terreiro do Paço.
Quando hoje temos tanta informação, calculo a frustração de minha Avó não ter conseguido chegar mais perto do seu túmulo. Ela sabia que se tinha de andar devagarinho com as crianças e acompanhar-lhes os passos. Esta foi também uma das minhas 1ªs lições de pedagogia. Anos mais tarde sentia alguma timidez em perguntar se tudo isto teria sido verdade!? Ela já estava perto da raínha, n'outro túmulo e enterrada de uma outra maneira; sem que por isso não se chamasse do mesmo modo, a esse acto a transposição para outra margem da vida, ou passamento, como se diz também da morte da mãe de Jesus, mostrados em quadros com a senhora de face azul. Pouco tempo depois deste transitar na busca, perdi o contacto doce com minha avó pela sua descompensação cerebral; assistindo sempre a todo o acto de ajudas à sua volta sempre na sua casa. Essa atenção veio a causar-me determinantes nas escolhas das minhas funções profissionais e também artísticas. O seu falecimento aconteceu no início da minha adolescencia e senti cedo essa perda de um elemento ancestral.
Mãe e mulher, tive um amigo que me contou esta morte que vêmos no vídeo. Estava já a voltar atrás vendo que a sua morte ocorreu em França; mas consolou-me o seu pedido em voltar ao nosso País. Aqui mostra as suas 2 grandes "grandezas". Minha avó tinha-a numa moldura, uma imponente pose, e muitas outras que ficam no nosso imaginário, familiares que preenchendo o nosso imaginário povoam certamente os nossos sonhos mais estranhos. Pelo que sinto; ela também era uma raínha de "Mim"; pelo que me dava e por como me pegava na mão. Um tal gosto de sermos soberanos.Mas talvez ela tivesse morrido sem o saber, porque ainda sofreu muito antes de isso acontecer. Afinal talvez tivesse afinidades com a raínha.
PS:nesta fotografia estão:-a Cilinha, a avó, a tia/madrinha, o padrinho e o meu irmão João-o mais velho de nós. Sempre pensei que a Cilinha fosse minha prima, porque me dava tantos abraços lavados e magrinhos. E aqueles óculos sempre me pareceram um caleidoscópio por ela via melhor os infantes. Quando a Cilinha partiu para o Brasil fiquei triste, muito triste, embora já fosse grande. Fiquei com os abraços dela e os passos lentos de minha avó a quem hoje presto aqui a minha homenagem discreta. Amanhã enviar-lhe-ei papoilas, ou ainda hoje. Aquilo que começa a ser o restolho dos dias de Junho a aproximar-se do Equinócio.

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