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domingo, 16 de maio de 2010

Perseguições imaginárias

Vários são os cenários vivenciados nas nossas vidas. Uns perssecutórios e outros nos bastidores, amenos e sem cenários. Tal como as rochas, somos feitos de matéria, de vários nomes, só que a nossa é pensante, e dos núcleos complexos que devem competir internamente a ver quem ganha o quê? E porquê? Sou constantemente perseguida, como ia a dizer por figuras que sempre pensei que de tão feias poderiam transformar-se em Princípes e Princesas. E isto deve ser daquele imaginário colectivo e insconciente fantástico que os gregos e os romanos inventaram. Pois antes e antes desse antes, pouco sabemos. Sempre adorei os grotescos, com grande encantamento e contemplação. Evidentemente, desde que nasci.Nasci em casa, e segundo dizem a parteira arranjou entre a água quente e a fria, uma bacia de água quente que estava demasiadamente quente. Já teria aquela tendência para o banho turco, e de facto quando a conheci mais tarde, não a considerava de grande beleza. Contudo gostava dela,apesar da suspeita de que me poderia ter morto, sem que nada modificasse o mais e menos quente e do jeito com que ela me ajudou a nascer. Mas as crianças são tal e qual os cães e os gatos; serve-lhes qualquer raça, qualquer idade, qualquer afecto e qualquer religião. Apurados como divinos, assim deveríamos continuar pela vida fora como aqueles cães que seguem animadamente a carroça sem perguntarem para onde vão. O mesmo se passa com os desenhos antes de se chegar a um tempo em que os riscos terão de ser mais horizontais ou mais verticais; embora aqui, neste ponto tivesse tido uma fada mágica que me tivesse dito para continuar como quisesse.
Mas o símbolo mágico que me trás aqui hoje é uma casa vernácula como a minha com uma especial família. (talvez fossemos e sejamos todos especiais, ainda agora)!A principal figura da casa era a "Taquinha", uma senhora já de cabelo branquinho (tudo era em "inho", naquela casa) atado com um carrapito junto à nuca; com muitos filhos e sem visibilidade marital. Homens e mulheres de dimensões muito inferiores às da nossa família, o que tornava grande a casa, porque todos eles eram pequeninos e não tocavam em nada, embora todo o interior fosse de concepção design. Nome estranho na época, para os analfabetos, que nem as letras podiam juntar, fossem elas qual fossem. Todos giravam na casa e a casa parecia girar neles, numa fala dialogada, como se entrassem e saíssem pelas paredes e nem precisassem de portas. A Alice, isto é verdadeiro, não é a história do Lewis Caroll que também não tem este nome, seria quanto a mim a filha mais velha. Depois havia o Albino,o Jaime, o Zé Manel e o Amilcar. Talvez a minha avó me levasse aquela casa por causa da dinâmica, da assépcia e talvez ainda, porque muitas vezes lhes íamos entregar uma panelinha com sopa. Deviam comer poucochinho e destes não me lembro se tinham quintal. Mas uma sala grande onde havia o estritamente essencial, com um pavimento de tábuas corridas ,lavado com sabão amarelo, cujo cheiro sempre me entrava pelas narinas adentro a saber a acabado de chegar. O desígnío da função precisa e instrumento biodiverso. O Zé Manel era o único que tinha a tentação interventiva do social. Às vezes aparecia nos bailes,e nos cinemas e adormecia. Devia ficar estonteado mesmo ainda naquela altura, que a sonoridade seria inatíngivel aos tímpanos. Mas sempre senti uma ternura especial por aquela gente, apesar de num quarto fundo, ao lado, à esquerda ou à direita houvesse uma criatura acamada, a Palmirinha,-que neste momento teria sido já sinalizada, rotulada com um nome que sei (se fosse deputada política di-lo-ia já) a qual se sentava e balanceava o corpo e lançava uma bola de uma para a outra mão, num sorriso constante. Esta rapariga sempre vestida de branco, determinou em mim um grotesco, uma personagem da Idade das Trevas. Os desenhos e as pinturas que não me largavam associavam-se simultâneamente aos figurantes do meu país de fantasmas por quem era perseguida e a quem eu perseguia. O grande "Escangalhado" a "Taquinha"e os seus filhos, eram os meus "Guliver"; ou melhor: a cidade de Lilliput. Mais havia, uns com mais delicadeza outros com menos, como que saídos do barro mal amassado e cozido em altos fornos desajeitadamente. Não me parece que tivessem sido reprodutores. Não lhes conheço descendencia e, ainda hoje quando pergunto a alguém mais antigo da terra, se sabe que nome seria o da Taquinha, ninguém sabe. Não deixaram nenhum rasto, a não ser pelo menos que eu saiba. Este sim, o da minha memória. Foram como uma estrela cadente. Apagaram-se no sonho e na ilusão de uma eternidade inexistente.

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