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domingo, 23 de maio de 2010

Domingos

Nesta fotografia aconteceu-me o mesmo que ao "Saudade",o cão de que falei ontem. Penso que o meu corpo, estava aqui, mas como o cão, não deveria poder tirar fotografias,estaria portanto à volta de quem captou esta imagem. Às câmeras fotográficas, chamávamos "máquinas". Máquinas fotográficas, é claro; embora elas fossem bem escuras como denominador comum. As camêras hoje têm muitas cores e formas o que nos avilta um espiríto de inveja e sedução, aquele do provérbio «a galinha da minha vizinha é melhor do que a minha». E o que acontece é que nós é que damos alma e força anímica a tudo quanto nos rodeia, quer pelo nosso entendimento macio com as coisas, quer porque as tocamos e suavemente lhes vamos dando e recebendo dessa invísivel matéria.Portanto nem vale a pena querer muito. Elas(as máquinas fotográficas) eram de facto pesadas, como se fossem um caixote carregado de negros mistérios que guardavam imagens mágicas. Tinham na parte à qual designávamos frente, uma abertura de 45% para de lá sair uma espécie de escadote pequeno, o fole como um harmónio sem som que me fazia sentir uma curiosidade de esticar os pés para saber como, onde e quando seria o tempo de poder tocar naquele ôco, vazio que tão secretamente guardava os milagres sem nenhuma santidade à volta desta família. Apenas um destino simples de passear pelos campos aos domingos quanto mais longe melhor. Embora o longe pudesse ter um perímetro igual ao que se denomina hoje a grande Lisboa. Belas, Vila Franca de Xira, Cacilhas, Sintra ou Azenhas do Mar, eram uma aventura de distancia, quer no que respeita aos carros, quer no que respeita aos caminhos e atalhos. Das fotografias guardo algum prazer da espera, aquele tempo desigual, ao de hoje, o do imediatismo quase como uma birra de criança que quer o objecto tão imediatamente, como o do pensamento de o desejar e querer, sem tempo de diálogo e de fé, como quem diz de esperança. Também dos que ficavam mal na imagem, e ou de cara para trás, ou que fugiam sem paciencia...Ou como o Saudade, ou como eu, se faziam grandes histórias de volta.

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