domingo, 27 de março de 2011
com frio e calor, humor, amor e ternura. Mas nos nossos olhos temos sempre reflectidos os barcos que passaram pelas nossas infancias com lenços brancos a acenarem-nos, ondas grandes de tempestades e pequeninas de nevoeiros...
Se uma casa fosse para viver sempre seria também para endoidecer e adoeçer.
Os pássaros fazem os ninhos e deixam-nos.
Há dias em que nem sei para que servem as casas que nos engolem e fazem nascer raízes pelo cérebro, raízes por dentro e por fora de nós.
quinta-feira, 24 de março de 2011
quarta-feira, 23 de março de 2011
terça-feira, 22 de março de 2011
segunda-feira, 21 de março de 2011
domingo, 20 de março de 2011
VIDROS
sexta-feira, 18 de março de 2011
O relógio parou no quintal, com a morte da mãe da casa; mas as folhas continuaram verdes porque era Inverno. O que os arquitectos paisagistas dizem, pouco importa, e menos ainda o que dizem os antropólogos, historiadores e arqueólogos. Debaixo destas terras há celeiros, anforas e histórias subterrâneas, como irá existir provávelmente no Japão daqui a um séc. ou mais. Estas casas seriam para reabilitar condignamente. Mas os novos projectos não só não ousam destruir e arrasar como padecem da misericórdia e executam a expoliação da gente que aqui nasceu. Os novos Projectos das Janelas, não contemplam a dignidade da convivencialidade original. Deitam fora as pessoas como que para os contentores que por ali acolhem os lixos dos 'afamados' restaurantes frequentados pelos ditos senhores das obras. Em tempo útil a marquesa (que não é aquela onde nos deitamos, nos consultórios) nem sequer sei o que é, em tempo útil repito recusou ir a tribunal pagar-me os 2.000 contos em 1999. E a amnistia intemporal que iliba toda a corrupção no nosso país assim a isentou. Por isso os relógios param, e fazem nascer e morrer as pessoas, se é que um relógio ainda marca e/ou é a marca de um tempo. Amen também. Ámen também para os que nas igrejas escapam aos pecados por dizerem e pedirem os perdões com falácias e promessas antagónicas a maiores verdades da profunda sinceridade e compram com hóstias as tentativas do bem fazer e as trocas vorazes das economias de estranhos tráfegos sem sinceridade mas com uma autoridade vendida e comprada sem preços, mas com poder. Em tempo útil a marquesa bem tratou de fazer a venda, ou passagem para outros familiares poderosos de poder económico e judicial. Judicial tal como é a justiça do nosso mundozinho.
E aqui estão os novos pobres...
quinta-feira, 17 de março de 2011
Equinócios
Gostava de voltar a estas astronomias e ver olhando os segredos cósmicos e a beleza contida neles próprios.
quarta-feira, 16 de março de 2011
a vida que corria e a que corre
Susana era uma mulher surda que vivia na minha terra. Ela vivia de um modo independente e selvagem. Apenas lhe ligavam no tempo das castanhas assadas em que ela se colocava de pernas abertas dando lugar a um fogareiro de barro onde assava esses lindíssimos frutos. Concerteza que não era apenas eu que a olhava nos tempos seguintes...mas gostava de ver o seu andar descalço que fugia à polícia por ser proíbido andar sem sapatos. E ela fazia-o em qualquer estação do ano. E corria descalça a fugir aos guardas que se chamavam nesse tempo. Penso também que nunca se penteava e tudo nela era o oposto ao culto da imagem cuidada. Confesso ainda hoje uma certa inveja que sentia por aquela animalidade epidermica e andar como animal que dorme e acorda simplesmente. Para mim ela seria uma espécie de nevoeiro andante, com a excepção dos dias mais pequenos de outono onde o fogo e as castanhas apelavam aos seus instintos primordiais de um tempo medieval.
segunda-feira, 14 de março de 2011
domingo, 13 de março de 2011
sexta-feira, 11 de março de 2011
quarta-feira, 9 de março de 2011
domingo, 6 de março de 2011
sábado, 5 de março de 2011
«Os Dois Amigos, de Kirmen Uribe
«Os peixes e as árvores assemelham-se.
Assemelham-se nos anéis. Se fizéssemos um corte horizontal numa árvore, veríamos os seus anéis no tronco. Um anel por cada ano transcorrido: é assim que se sabe a idade da árvore. Os peixes também têm anéis, mas nas escamas. E, da mesma forma que acontece com as árvores, graças a eles sabemos quantos anos tem o animal.
Os peixes nunca deixam de crescer. Nós não, nós minguamos a partir da idade madura. O nosso crescimento detém-se e os ossos começam a juntar-se. O corpo encolhe. Os peixes, porém, crescem até morrer. Mais depressa quando são jovens e, a partir de certa idade, mais lentamente, mas sem nunca deixarem de crescer. E por isso têm anéis nas escamas.
O anel dos peixes é criado pelo Inverno. O Inverno é a altura em que o peixe come menos e a fome deixa uma marca escura nas suas escamas, porque o seu crescimento é menor durante esta época. Ao contrário do que acontece no Verão. Quando os peixes não passam fome, não permanece qualquer rasto nas suas escamas.
O anel dos peixes é microscópico, não se vê à primeira vista, mas está lá. Como se fosse uma ferida. Uma ferida que não sarou bem. E, como os anéis dos peixes, os momentos mais difíceis vão marcando as nossas vidas, até se converterem na medida do nosso tempo. Os dias felizes, pelo contrário, passam depressa, demasiado depressa e, em seguida, desvanecem-se.
Aquilo que para os peixes é o Inverno é a perda para as pessoas. As perdas delimitam o nosso tempo; o final de uma relação, a morte de um ser querido.
Cada perda é um anel escuro no nosso interior.»
[in O Dois Amigos, de Kirmen Uribe, tradução de Pedro Vidal, Planeta]
sexta-feira, 4 de março de 2011
A história da Papisa Joana
quarta-feira, 2 de março de 2011
Partidas e chegadas
A Primavera é imensa.
As estátuas também partem e se partem e se deixam partir.
Tal como as pontes se deixam atravessar de cá para lá e de lá para cá.