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quarta-feira, 16 de março de 2011

a vida que corria e a que corre


Susana era uma mulher surda que vivia na minha terra. Ela vivia de um modo independente e selvagem. Apenas lhe ligavam no tempo das castanhas assadas em que ela se colocava de pernas abertas dando lugar a um fogareiro de barro onde assava esses lindíssimos frutos. Concerteza que não era apenas eu que a olhava nos tempos seguintes...mas gostava de ver o seu andar descalço que fugia à polícia por ser proíbido andar sem sapatos. E ela fazia-o em qualquer estação do ano. E corria descalça a fugir aos guardas que se chamavam nesse tempo. Penso também que nunca se penteava e tudo nela era o oposto ao culto da imagem cuidada. Confesso ainda hoje uma certa inveja que sentia por aquela animalidade epidermica e andar como animal que dorme e acorda simplesmente. Para mim ela seria uma espécie de nevoeiro andante, com a excepção dos dias mais pequenos de outono onde o fogo e as castanhas apelavam aos seus instintos primordiais de um tempo medieval.

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