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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Viagens ao Porto da minha Infancia


Acontecia também irmos várias vezes ao Porto em viagem de família, visitar, outros tios e primos. Para mim o Porto, distinguia-se de Lisboa, quase como hoje distingo o Norte com o Sul da Europa. Falava-se nitidamente outra língua, a qual me seria fácil seguir, mas nunca me explicaram se seria ou não respeitoso fazê-lo. Para mim, no Porto chovia sempre. Uma chuva cinzenta, mas limpa. O Porto tinha uma escuridão de pedra e de fortaleza de granito. As pessoas eram semelhantes àquele fosso entre as margens, onde o Douro, passava e onde nós sempre sobre ele o fazíamos na ponte de D.Luís. Para lá chegarmos era comum dormirmos em Coimbra, onde não havia familiares, mas para mim toda a viagem era contagiante de alegrias e sabores dos diferentes percursos e cores.Para o Norte tudo se tornava "verdete" como os cobres que se tinham de limpar e tanta confusão me fazia. Sempre gostei das cores azuis e verdes. Tal como em Lisboa,por vezes dormia com a minha tia, no Porto era mesmo obrigatório dormir com uma prima minha. Dela apenas guardo uma imagem visual,muito carinhosa. Essa seria mesmo uma princesa, tal e qual a da Santa Brigída da Suécia; a primeira da Era Medieval; de longos cabelos louros e olhos azuis. A preferência com que todos os homens se seguraram como mito. Bem que para mim, dormir nos dias de chuva torrencial rodeada de pedras negras com uma princesa tão clara, era tão romântico como mágico. Talvez os homens pensem assim também e tenham medo ainda do escuro. Por isso as mulheres andam sempre a pintar o cabelo de louro!? A casa de família situava-se junto à Avenida dos Aliados com a Torre dos Clérigos,lá em cima, um Gótico ao Céu. Lá todos os sinos que tocavam e o Bulhão era para mim ir à China. Para chegar à casa de meus tios subia-se um terceiro andar até uma cúpula de vidro, segura por uma armação em forma de tarântula que agarrava a vidraça, onde caiam sempre as águas torrenciais e de onde se via o céu. Uma espécie de observatório. Aí a minha Tia dispunha à volta do varandim interior, flores; flores felizes naquela ambiência circular. Onde também gostava de fazer círculos agarrada à varanda onde se olhássemos para baixo se via uma espiral. Era caloroso dormir com a minha prima, com a certeza de que ela me iria contar mais histórias. Nem que fossem sobre os pingos que caiam nos vidros. Antigamente não havia o hábito de fechar tão hermeticamente as janelas de certas casas, porque os medos também eram pertença de outras histórias...

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