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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Páscoa-photos de Josef Sudek

A Páscoa, um mistério...
esta temperatura no nosso
pensamento, epiderme dos tempos, uma nebulosa distanciadamente proxémica.
O catolicismo desigual:os que se dizem católicos, aos que praticam e o dos que sentem. Os artistas sempre representaram as figuras sagradas com ar enigmático, torturado, triste amorfo ou mutilado. Ainda assexuados, ou efeminados. Um pudor na execuçao do punir e/ou mesmo a sexualidade sem vida; castrada, desvirtuada e obsessiva e tristemente frustrada- daí óbvia e patológimente longínqua do ser amado e amante.
Na terra da minha infância, dizia também meu pai que existiam tantas capelas e igrejas como tabernas. Mais tarde isto sempre me fez lembrar os:Carmina Burana,na sua expressão musical mais sagrada e profana e só hoje sei da sua marginalidade e função em contestação aos dogmas revelados e me apercebo da minha paixão incondicional mal chegaram atravé do long-play a Portugal. Mas, então na igreja matriz há uma figura quase à escala natural, certamente realizada por um santeiro anónimo, ao qual resolveram vestir de um roxo(desde que o conheço) que esteve há relativamente pouco tempo na moda. Sempre fui à igreja às escondidas e a situação lúdica da quaresma, embora repleta de mistérios era para mim igual a todos os outros; sendo que o mais perfeito era o da Primavera e todo este rebentamento contido durante tanto tempo dentro da madeira, secreto, à espera da explosão das folhas, flores, cores e matérias criadoras! Na igreja serviam-se igualmente deste milagre, usando as flores, para a tristeza e para a alegria.
O cristo continuava de joelho no chão naquela magoada tentativa de se levantar sem que ninguém o ajudasse; com a pesada cruz negra às costas. Vestes largas naquela mistura intensa do vermelho com o azul e coroado de espinhos que o ensanguentavam: espectáculo que um dia talvez possa vir a ser considerado de abuso visual e não permitido a crianças. Para mim era uma violência olhá-lo e compreendo cada vez melhor o desagrado de não gostarem que frequentasse aqueles lugares. Uma face doente pugnava misericórdia a todos. E continua a implorar, quieto exausto no mesmo lugar, com tantas gerações que já lhe passaram. As voltas medrosas e tímidas à sua volta, hoje fazem-me analisar outros significados, embora me deixem a mesma inquietação. Tenho observado cristos lindíssimos. Outros horrendos; todos fruto da invenção criativa dos homens. De Giotto aos nossos dias o dicionário não se fecha porque pode ser pecado, ou cair-se em pecado. Neste folhear há trabalhos louváveis de artistas dedicados, mas sempre a olhar modelos em desespero e sofrimento. Ainda hoje, se por qualquer motivo tenho de ladear aquele cristo, volto ao início dos meus desertos e inquietações fundamentais.

1 comentário:

magda disse...

A propósito de imagens em igrejas:
1 - vi em Tiradentes, Estado de Minas Gerais, claro, pela 1ª vez os anjinhos todos com sexo completo e à mostra. Não consegui tirar nenhuma foto que o Reginaldo, o meu guia, um simplório muito simpático, era um religioso ferveroso e não me deixou. Escrevi nos 1os dias do meu blog sobre ele e um "milagre" que ele viveu.

2 - Por Cristos feios, a imagem da nova Basílica de Fátima é horrenda! Não há palavras! Onde terão arranjado um modelo assim?
Tenho foto, que aqui tirei, o Reginaldo não estava comigo.