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sexta-feira, 2 de abril de 2010

A Mão de bater à Porta

...estas eram as misteriosas mãos. Mãos sem mãos que nós gostávamos de tocar como mãos. Estas eram pesadas. Pesadas contrariamente à fina camada de pó de arroz que as senhoras usavam e a quem muitas vezes tínhamos de dar um beijinho sobre uma renda de um chapéu que descia até ao nariz ou podia cobrir toda a face. Nem por uma, nem por outra situação sentia grande apreciação. Na primeira pelo peso, um peso extra, a segunda por uma segunda epiderme que me parecia falsa embora houvesse um registo perfumado de qualquer semelhança a flor ou tentativa de longínquos mistérios de olfactos orientais.
A Mão sempre me lembrou um outro jogo: «o da mão morta, mão morta vai bater àquela porta» porque sempre tive medo de deixar cair a mão no ferro, pelo barulho que fazia. Também podia cair no chão e isso significaria um grande desastre. Estas mãos e estas faces estariam igualmente relacionadas com passos. Os passos de quem se aproximava da porta e da pergunta: quem é? O que deseja?
A senhora não está, já vai, ou já vou. Muitos verbos, muitas interjeições e advérbios de lugar! Agora não posso atender. Venha mais tarde! E também o silêncio, a ausência de som a assemelhar-se à postura da mão; quieta, clássica, não sem indiferença a manter um significado em qualquer porta. E uma porta sempre foi uma fronteira, um esbarrar para um salto de um outro universo. A porta e o passo. Dá-me licença, posso entrar. Ou também o silencio do simples abraço

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