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quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Cerca de Tibães e o teu Cavalo Ricardo

As histórias que as vidas de uns, nos remetem para a dos outros...
Ontem qualquer coisa remexia nas minhas memórias enquanto te lia, em Curitiba.
Apenas tinha S. Martinho e nada mais. Acordei felizmente a pensar em Tibães. Há anos que lá estive e há outros tantos que não vou lá...Acabo agora de aderir ao Blog e está lindo com indução para Google Earth e bird-view. Apenas faltam as vivências e parte dos sentidos enquanto a oportunidade de os vivenciarmos não nos permite a ida. Mas já lá passei alguns momentos antes da reabilitação encantatórios e uma deles sozinha. O Mosteiro encontrava-se ainda num abandono, de forma ocupada por mistérios, como nos despojos das despedidas onde se deixam rastos de vida para trás. Um cavalo branco que pastava indiferente, nu de arreios e quaisquer adjectivos;restos imemoriais de ervas medicinais num lugar acolhedor de pequenos claustros com uma grande mesa de pedra indicada a transformações alquímicas e vazios, espaços vazios... Um espólio de riquezas culturais e patrimoniais ao longo de corredores com pavimentos de longas tábuas corridas de madeira de antigas árvores, sem limpeza, nem sujidade. E, apesar de ser um Mosteiro fundado pela Ordem Beneditina,encontrava-se repleto de pinturas de grandes dimensões que nos conduziam a um altar Barroco. Enquanto passeava tranquilamente como se apenas o cavalo branco me tivesse permitido a entrada sem bilhete e sem idade, ou identidade, apareceu-me um rapaz enorme, adolescente talvez, de longos membros, lascado no granito do lugar, e embebido de várias eras, vindo sabe-se lá de onde, mas também do séc.XI como o Mosteiro e todos nós. Habituada a lidações com estes comportamentos de personalidade interrogativa, iniciei o percurso verbal indubitável, das belezas do lugar; preenchendo-o também a ele dos certificados da sorte de ali viver. Certa, mas na dúvida, perguntei-lhe se sabia a quem pertenciam aqueles quadros? Melhor, quem os teria pintado? Com uma vénia excedente sobre mim, curvando o corpo imenso, ele respondeu:-"Sei, mas desculpe-me, não lhe posso dizer!"
Há professores, drs, mestres assim;-que nos fazem procurar, pensar e inclusivamente pensar sobre o que os levará a serem assim? Se não sabem mesmo? Ou se tiveram pais?! Ou quem os abandonou-para nos deixarem às más sortes...
Com este rapaz porém, a sensação dele ser pertença daquelas paredes, daquele cavalo, dos dourados do barroco póstumo, dos longos corredores que rangiam não me deixavam dúvidas de que ele conhecia tudo, e nada me poderia contar. Não era mais um papagaio intelectual.Era uma criatura de deus igual ao "Escangalhado" da minha infância,inocente e sujo/limpo do cavalo e do estábulo, da pureza das águas que corriam lá fora até ao lago, ao contrário do padre que se passeava na minha terra sem eira nem beira, sempre no desejo de uma esmolinha para a sua auto-promoção. Que será feito destes nossos inocentes e dos seus cavalos? (No próximo dia 11 há lá cogumelos, quem me dera lá ir...)

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