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quinta-feira, 8 de abril de 2010

a morte

As anunciações das mortes talvez sejam sempre mais conflituosas, do que as do nascimento, porque as letras que lhe juntamos como alfabeto de incógnita são transformadoras, levam-nos rápidamente a caminhadas desconhecidas.
Onde eu morava já havia também o suicídio, assunto como a poeira dos caminhos. Ninguém queria falar, mas o pó levantava-se indelével...
O meu maior medo era sempre o de encontrar a vítima pendurada em qualquer árvore; e, das árvores onde isso mais fácilmente acontecia eram as Oliveiras. Árvores muito harmoniosas, vindo da Síria, tão resilientes, adaptáveis, perenes, talvez pela sua beleza, misticismo dádiva de luz póstuma se ofereciam àquela viagem secular.
Secularidade, se o será?...
Ainda observo ambas as situações com a mesma dignidade. O emaranhado espiral dos troncos da árvore e o do tronco da pessoa. Tanta pertença, tanta fé e tão ousado destino, tão breve e tão efémero. No trabalho de Blake, sente-se essa inquietação transcendental e questinamento sobre o passamento.

1 comentário:

magda disse...

Sim, a anunciação da morte é conflituosa a mais das vezes. Maas a da vida também o é, tantas vezes inesperada e indesejada. E há quem mesmo assim nasça e tenha de viver com o desprazer que causou aos outros por estar cá. Porque se há quem, depois do impacto inesperado, seja capaz de dar a volta e apaixonar-se por quem aí vem, também há quem nunca o consiga fazer e desgraçado fica o outro...a não ser que seja tão resiliente que se salve e bem.
Oliveira claro, até porque se fosse numa cerejeira, cerdeira como se diz lá para cima, o ramo podia partir-se e não resultava o engenho.
Engraçado, foi coisa que nunca me passou pela cabeça que se podia encontrar, um enforcado. Atropelado, defenestrado e outras coisas mais, mas como citadina o enforcamento nunca fez parte do meu imaginário.