Meu pai fazia fatos para todo o tipo de pessoas. Para mim, os mais bonitos eram os executados para o primo Aurélio. Porque eram brancos, de uma alvura e modo sintético, como agora se chamaria puro design. Claro que tinham o desígnio do mar, do azul marítimo e, com os botões dourados, que também eram de ouro puro para mim, tudo aquilo seria um reino de fadas. Na alfaiataria havia um espelho-um enorme espelho da dimensão das pessoas, onde elas se apreciavam. Olhava para elas duas sentada no sofá. Para a pessoa e para ela no espelho mirando-se e remirando-se, às voltas e reviravoltas. Meu pai pacientemente juntava alfinetes e mais alfinetes nas rugas e pregas, unindo ou abrindo espaços, perguntando como se sentia?! Como se aquilo fosse uma cirurgia epidérmica.Ou uma escultura. Sentia o gosto e a ternura de meu pai a juntar e a rasgar as peças alinhavadas. Adorava os alinhavos que faziam espinhas ou traços diversos. Princípios de desenhos que gostava de fazer nas tábuas juntas ao colo que as costureiras sentadas em banquinhos baixos me cediam. Tal como as pranchetas. Meu pai dava-me as folhas de calendários que lhe enviavam; propaganda de bons tecidos estrangeiros. Calendários de lugares na época longuíssimos para mim. Espanha era onde íamos mais longe. E se era...Desenhava na parte detrás e as folhas eram de papel couchè.
No fundo era; um modo de cobrir a pele. Uma plasticidade sobre outra. Os fatos eram produzidos de vários materiais na gama dos tecidos, algodão, lã, angorà, nomes de referencia a outros, como pelo de camelo, para sobretudos e linho para o Verão. Havia fatos para todas as estações do ano e como quem diz, para todas as estações de pessoas. Eu adora, depois dos fatos brancos do meu primo Aurélio, os fatos do Pai Natal e os fatos dos palhaços.
Mas um dia apareceu lá um senhor com um ar sério e triste, e ainda vivo. Muito evasivo sobre o que queria, com uma timidez na palavra e muitas hesitações. Meu pai não era pessoa de ter face dura ou inquisidora, agressiva ou confusa. Hoje como se me esvai muito da realidade de tudo quase que me apetecia dizer que meu pai não tinha cara, tinha espaço e abertura dentro de si e da sua comunicação silenciosa e amável. Daí o senhor ter colocado na mesa, aquela dificílima questão quase em surdina:-" sabe? queria um fato para levar no meu caixão...". Escolheram, apalparam tecidos, cores, padrões. Nada é apropriado para um morto. Naquela altura ainda não havia os cultos. Ou por outra, já o Egipto ia há milhares de anos, centenas de séculos. Não convinha ser uma cor brilhante ou clara. Ele próprio iria vestido do seu próprio luto. Este homem como outras figuras seguiram-me toda a vida, com aliás todo o ambiente que ali vivi com meu pai e todas as pessoas que com ele trabalhavam, mas disso irei falando aos poucos, como das tesouras que não conseguia pegar e que deveriam ser do tamanho do meu braço. Todos os instrumentos me eram respeitosamente sérios e me criavam uma curiosidade quase museológica. Porque tudo era transformador e vivido numa escala de utilidade e vigor construtivo com saber e delicadeza. Cada cliente era atendido de igual forma, coisa que ao longo dos tempos fui sentido saudades. Havia os que se tinha de ir às suas casas. Ou porque eram doentes de situações verdadeiramente físicas, e/ou psíquicas. Assim acompanhei muitas vezes meu pai a, palácios e barracas. Aí ter-se-à iniciado a minha formação política...
No fundo era; um modo de cobrir a pele. Uma plasticidade sobre outra. Os fatos eram produzidos de vários materiais na gama dos tecidos, algodão, lã, angorà, nomes de referencia a outros, como pelo de camelo, para sobretudos e linho para o Verão. Havia fatos para todas as estações do ano e como quem diz, para todas as estações de pessoas. Eu adora, depois dos fatos brancos do meu primo Aurélio, os fatos do Pai Natal e os fatos dos palhaços.
Mas um dia apareceu lá um senhor com um ar sério e triste, e ainda vivo. Muito evasivo sobre o que queria, com uma timidez na palavra e muitas hesitações. Meu pai não era pessoa de ter face dura ou inquisidora, agressiva ou confusa. Hoje como se me esvai muito da realidade de tudo quase que me apetecia dizer que meu pai não tinha cara, tinha espaço e abertura dentro de si e da sua comunicação silenciosa e amável. Daí o senhor ter colocado na mesa, aquela dificílima questão quase em surdina:-" sabe? queria um fato para levar no meu caixão...". Escolheram, apalparam tecidos, cores, padrões. Nada é apropriado para um morto. Naquela altura ainda não havia os cultos. Ou por outra, já o Egipto ia há milhares de anos, centenas de séculos. Não convinha ser uma cor brilhante ou clara. Ele próprio iria vestido do seu próprio luto. Este homem como outras figuras seguiram-me toda a vida, com aliás todo o ambiente que ali vivi com meu pai e todas as pessoas que com ele trabalhavam, mas disso irei falando aos poucos, como das tesouras que não conseguia pegar e que deveriam ser do tamanho do meu braço. Todos os instrumentos me eram respeitosamente sérios e me criavam uma curiosidade quase museológica. Porque tudo era transformador e vivido numa escala de utilidade e vigor construtivo com saber e delicadeza. Cada cliente era atendido de igual forma, coisa que ao longo dos tempos fui sentido saudades. Havia os que se tinha de ir às suas casas. Ou porque eram doentes de situações verdadeiramente físicas, e/ou psíquicas. Assim acompanhei muitas vezes meu pai a, palácios e barracas. Aí ter-se-à iniciado a minha formação política...
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