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terça-feira, 29 de maio de 2012

Hoje apetecia-me ter a gripe asiática como há muitos anos. Mas foi há tantos tantos anos que hoje nem sei se me salvava. O dr. Farinha ia à nossa casa, ia toda a família visitar-me e só os irmãos não podiam estar em contacto connosco o que era bem bom pois a questão não passava jamais ao conflitual. A família e os amigos ofereciam-me prendas, livros para pintar e pequenos panos para fazer ponto de cruz. Os livros para ler não eram muitos, mas lia-se o que havia e o sonho passava além fronteiras. As injecções de penicilina eram dadas pela tia Irene, das mais fantásticas tias avós que tive. Dava injecções sem agulha, no que eu acreditava, pois mostrava-me sempre todo o processo de transformação de pequeno laboratório na seringa e escondia a agulha. Tinha uma caixinha longa metalizada repleta de agulhas, as quais me fascinavam. No momento da aplicação no glúteo como tinha de estar de costas ela deveria dar uma pequena mas forte pancada no preciso momento em que espetava a agulha. Fazia-o com a antiga sabedoria das antigas coisas e era triunfalmente que voltava a exibir a seringa sem agulha.Esta saborosa crença do imaginário faz-nos guardar silenciosa e docemente tantas boas estórias que não necessitam nada mais do que este vivenciar simples das coisas fáceis e transparentes da infância. 

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