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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Janeiro de 1947




Este foi o ano em que fui concebida; talvez no mês a seguir pois viria a nascer mais para o fim do ano; concebida por meus pais, todas as figuras aladas, todos os espíritos santos e diabólicos. Embora todas as crianças:perguntem: onde estavas antes de nasceres? E não chega o passado curto, querem uma antiguidade classica. Preferem que conte estórias e que diga: sei lá... talvez tenha vindo da Grécia das colunas Jónicas, ou Dóricas e ou Coríntias. Que vim do rio Tigre, da Mesopotamia, ou sei lá de onde. E não temos palavras para este arcaísmo de pensamento transversal a todos os mundos e séculos mesmo a.C.
Ignoro se meu pai me terá guardado esta folha de calendário que seria onde eu viria poucos anos mais tarde a desenhar. Folhas que me desvaneciam em amores pelas imagens viajantes e pelo verso branco e brilhante, nada igual ao papel almaço com uma alegoria muito patriótica que os meus colegas se entretinham a realçar com um lápis para que a sua visibilidade fosse demonstrada, meio atrevidamente, meio inocente; uma vez que toda a gente sabia que a heráldica significante lá estava. Aquilo irritava-me. Retirava o espírito virgem e imaculado à folha. Irritava-me já nesse tempo infantil que seguissem aquilo como rebanhos. E não tivessem imaginação para recriar.

E eram estas as folhas para os meus albúns de desenhos e encantos de fazer passeios com os lápis de côr por terrenos de neve brancos, como este que por coincidencia até também tem neve, mas não era desta que se tratava, mas sim do reverso da folha do calendário.

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