«O leão, o rei dos leões»- diz quase como uma ironia no painel de zinco destruído. Terá sido realmente destruído pelo rei dos animais!? Ou há um rei muito mais rei e violento do que o dos leões. Que rasto é este que me pareceu ensanguentado? Sei que o fim da tarde estava no seu auge.
Brinquei aqui na forma mais pueril e inocente, mesmo perto dos sardões, das cobras fininhas e dos lagartos. Tinha acesso livre a este palácio com uma enorme cozinha de azulejos azul no branco, que nem quero saber dos seus desígnios. Aqui, neste lugar, debaixo do dragoeiro, acontecia o tempo passar devagar, mesmo com os medos do poço. Na casa apalaçada como lhe queiram chamar havia apenas uma figura feminina que andava entre enormes espelhos. Era fininha e vestia sempre de preto. Uma solidão temerosa, quase parecida com a forma tubular do poço onde era proibido irmos. Esse misto de proibidos/permitidos foi sempre uma forma de aprender outras vidas de confronto. As ameias ficaram-me sempre na memória mesmo depois de ter todos os outros longe, muito longe. Uma espécie de rosa do «Pequeno Princípe», estas eram as ameias onde nasci mesmo sem ter palácio.
Eu sentia-me muito mais rica do que aquela senhora, pelo significado abrangente da minha família que até me criava a possibilidade de ali brincar e viver; enquanto que a senhora nunca saia das suas paredes de espelhos soturnos. Nunca aprendi bem se ela ia à cozinha porque nunca a vi lá. Da cozinha íamos para o pátio e jardim do dragoeiro e a grande virtude da infância é pensar que o universo é uno tangível tanto quanto o pode ser e também intangível. Ainda com a mesma ironia do placard dos leões parece-me que hoje poderíamos de novo ir para lá brincar. Mas com quê e a quê? Às habituais corridas de monstros e diabos que hoje dão de bandeja à infância? Mais tarde quando comecei a ler a Sophia de Mello Breyner criei na minha imaginação que era ela que ali tinha vivido. Havia uma semelhança, entre o que lia e o sentimento que me ocorria naquela presença imemorial. Tenho feito diversos pedidos à Junta de Freguesia, para dilatarem a Escola 45 até este espaço; voltando a cortar aquele portão que abriram para o tráfego em golfada passar por ali. Mas as crianças para adquirirem alguns direitos perdem outros. E é assim a vida. Talvez com escolas particulares existissem assinaturas e ministros para activarem estes processos. Mas vamos a ver até o palácio que nem tem nome, nem nº de obra se sabe para e de quem é e para o que é?
Brinquei aqui na forma mais pueril e inocente, mesmo perto dos sardões, das cobras fininhas e dos lagartos. Tinha acesso livre a este palácio com uma enorme cozinha de azulejos azul no branco, que nem quero saber dos seus desígnios. Aqui, neste lugar, debaixo do dragoeiro, acontecia o tempo passar devagar, mesmo com os medos do poço. Na casa apalaçada como lhe queiram chamar havia apenas uma figura feminina que andava entre enormes espelhos. Era fininha e vestia sempre de preto. Uma solidão temerosa, quase parecida com a forma tubular do poço onde era proibido irmos. Esse misto de proibidos/permitidos foi sempre uma forma de aprender outras vidas de confronto. As ameias ficaram-me sempre na memória mesmo depois de ter todos os outros longe, muito longe. Uma espécie de rosa do «Pequeno Princípe», estas eram as ameias onde nasci mesmo sem ter palácio.
Eu sentia-me muito mais rica do que aquela senhora, pelo significado abrangente da minha família que até me criava a possibilidade de ali brincar e viver; enquanto que a senhora nunca saia das suas paredes de espelhos soturnos. Nunca aprendi bem se ela ia à cozinha porque nunca a vi lá. Da cozinha íamos para o pátio e jardim do dragoeiro e a grande virtude da infância é pensar que o universo é uno tangível tanto quanto o pode ser e também intangível. Ainda com a mesma ironia do placard dos leões parece-me que hoje poderíamos de novo ir para lá brincar. Mas com quê e a quê? Às habituais corridas de monstros e diabos que hoje dão de bandeja à infância? Mais tarde quando comecei a ler a Sophia de Mello Breyner criei na minha imaginação que era ela que ali tinha vivido. Havia uma semelhança, entre o que lia e o sentimento que me ocorria naquela presença imemorial. Tenho feito diversos pedidos à Junta de Freguesia, para dilatarem a Escola 45 até este espaço; voltando a cortar aquele portão que abriram para o tráfego em golfada passar por ali. Mas as crianças para adquirirem alguns direitos perdem outros. E é assim a vida. Talvez com escolas particulares existissem assinaturas e ministros para activarem estes processos. Mas vamos a ver até o palácio que nem tem nome, nem nº de obra se sabe para e de quem é e para o que é?
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