Ela tem quase 80 anos. Figura direita como um tronco herético, sem sifoses, nem desvios físicos aparentes. Detesta médicos e pouco ou nada os visita.É elegante e raramente está fora do lugar onde deve de estar. Circula num perímetro de pouco mais de 100 metros e cumpre o quotidiano como se não chovesse nem fizesse frio, nem calor. Poucas mudanças faz de roupa e poucos ou mesmo nenhuns dizem se está bonita, ou feia. Contínua com a cara dos pães que duravam para toda a semana e diz que mal sabe como criou os filhos, na guerra e na fome. De 3 que pariu, uma emigrou há anos e quando volta, volta a festa, apesar de deixar a mãe no cumprimento das tarefas iguais, como se ela nem do seu habitat pudesse sair. Entre o hoje e o amanhã há poucas distancias. Toda a sua vida portuguesa possuí uma espécie de dialecto verbal obediente a um Sul de deserto, com tal capacidade que até os felinos lhe obedecem. Vi-a sim bater com uma cana na cabra que investiu direito a ela para lhe falar no seu jeito de marrar, mas é da palavra que mais se serve, um som que deixa rasto infindo pelos campos. Coisa de árabe! Cada vez mais me convenço tão perto de Sintra, onde tudo ainda é aldeia e 'Al'. Saloios moínhos,de água e de vento, poços já quase secos mas águas a quererem voltar como carreiros e trilhos. Mas a Engrácia agrega gente e determina as suas opções com a energia que chegaria para toda a aldeia com uma supremacia e subtileza incontornáveis. E, como há anos, senhoras de Lisboa e outras cidades, usa ainda umas roupas interiores delicadas onde lhe cabem umas peças chamadas combinações com rendas de um tecido especial, semelhante ao peso da seda que apenas alguma lojas possuíam como a Pompadour na Baixa perto do arco da R. Augusta. Mas são ainda os homens em pequenas camionetas que se deslocam a estes lugares para venderem os produtos em dias sabidos e organizados. Onde ela mora não há cafés, nem mercados, e coisa absurda há Céu e espaços sempre há venda como cápsulas com bichos de conta, caracóis lagartos e alcachofras tão belas como ela ao sol desprevenido, sem creme e sem proteções. Mas é sempre bom não nos aproximar-mos demasiado. Ao Pôr do Sol o brilho até fere.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Engrácia
Ela tem quase 80 anos. Figura direita como um tronco herético, sem sifoses, nem desvios físicos aparentes. Detesta médicos e pouco ou nada os visita.É elegante e raramente está fora do lugar onde deve de estar. Circula num perímetro de pouco mais de 100 metros e cumpre o quotidiano como se não chovesse nem fizesse frio, nem calor. Poucas mudanças faz de roupa e poucos ou mesmo nenhuns dizem se está bonita, ou feia. Contínua com a cara dos pães que duravam para toda a semana e diz que mal sabe como criou os filhos, na guerra e na fome. De 3 que pariu, uma emigrou há anos e quando volta, volta a festa, apesar de deixar a mãe no cumprimento das tarefas iguais, como se ela nem do seu habitat pudesse sair. Entre o hoje e o amanhã há poucas distancias. Toda a sua vida portuguesa possuí uma espécie de dialecto verbal obediente a um Sul de deserto, com tal capacidade que até os felinos lhe obedecem. Vi-a sim bater com uma cana na cabra que investiu direito a ela para lhe falar no seu jeito de marrar, mas é da palavra que mais se serve, um som que deixa rasto infindo pelos campos. Coisa de árabe! Cada vez mais me convenço tão perto de Sintra, onde tudo ainda é aldeia e 'Al'. Saloios moínhos,de água e de vento, poços já quase secos mas águas a quererem voltar como carreiros e trilhos. Mas a Engrácia agrega gente e determina as suas opções com a energia que chegaria para toda a aldeia com uma supremacia e subtileza incontornáveis. E, como há anos, senhoras de Lisboa e outras cidades, usa ainda umas roupas interiores delicadas onde lhe cabem umas peças chamadas combinações com rendas de um tecido especial, semelhante ao peso da seda que apenas alguma lojas possuíam como a Pompadour na Baixa perto do arco da R. Augusta. Mas são ainda os homens em pequenas camionetas que se deslocam a estes lugares para venderem os produtos em dias sabidos e organizados. Onde ela mora não há cafés, nem mercados, e coisa absurda há Céu e espaços sempre há venda como cápsulas com bichos de conta, caracóis lagartos e alcachofras tão belas como ela ao sol desprevenido, sem creme e sem proteções. Mas é sempre bom não nos aproximar-mos demasiado. Ao Pôr do Sol o brilho até fere.
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