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terça-feira, 24 de agosto de 2010

estórias de cães





Era uma vez um cão que por ser abandonado vivia feliz a sua vida por onde queria. Contudo tinha à volta do seu pescoço um colar fininho e imperceptível, semelhante à linha do horizonte quando o sol se põe e há nevoeiro e a sua luz insiste num brilho leve e prateado que divide os sinais do éter e da água. Se alguém se aproximasse para o tocar por afecto ele permitia primeiro com alguma desconfiança, mas depois de atravessada a ponte proxémica da empatia ele devolvia uma estória contada no fio enrolado no seu pescoço de cão.
O tempo da caça começou mas ele nunca tinha sabido nada a esse respeito e nem sequer se assustou quando viu os homens com armas e vestidos para matar. Era robusto, mas muito novo e nunca tinha estado preso a correntes nem a casas. O ruído insano dos disparos assustaram-no e tentou esconder-se entre as pedras dos muros.
Desse lugar viu bandos de pássaros foragidos e sem rotas. Tentou ouvir uma das suas estórias mais leves, mas o estrilho das balas pareciam-lhe bombas ensurdecedoras que não permitiam ouvir nada mais. O histerismo mais ligado ao feminino estava agora degradado nos agudos assobios dos homens em grupos semelhantes a Idades Antigas. De repente sentiu algo de quente e macio junto ao preto do seu pêlo. E com coração pequenino e ofegante em batidas aceleradas. Pressentiu-lhe o medo e o horror e abriu da sua coleira, para aquela figurinha de coelho uma pequena estória do mar. Mais insistentes ruídos brutais contínuaram sem espaço, nem intervalo e esvoaçando outra pequena ave aconchegou-se a outra estória por desbravar. Era uma rôla de colar castanho escuro. Tiveram de se esconder rápidamente debaixo de uma moita, rente ao muro coberta de silvas e amoras silvestres. O cão perguntou à rôla se ela também tinha histórias no seu colar, mas ela não sabia que tinha um tão belo fio envolto. Miraram-se todos e repararam como eram diferentes. Sensações epidérmicas conquistaram outros espaços de olfactos. Pelos ritmos acelerados dos dois últimos animais, os cheiros misturavam-se entre os líquens das velhas pedras as folhas das amoras e também do solo e da paz do cão com a coleira das estórias. O mar estava perto se fossem pelo rio abaixo...poderiam apanhar uma embarcação. (contínua)

2 comentários:

magda disse...

Voltastiii? Ainda bem, já tinha saudades das tuas divagações creativas. Bjs

ester disse...

Ainda nem sei bem; não é definitivo.
Um tempo efémero de me aliviar e sacudir da poeira da polvora dos cartuchos das espingardas. Aquela agressividade e des/asserto com que lido às avessas.
Às vezes vejo num repente os teus dias acontecidos e nem tenho tempo de falar...mas, o cavalo marinho é maravilhoso.
O teu coment foi direito ao "spam" q ia agora apagar.
Saudades tb e bj