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sexta-feira, 2 de julho de 2010

A Menina Judite,dos CTT ou, «Judite nome de Guerra»




A Menina Judite, foi Menina Judite até lhe desconhecer o paradeiro. Deviam ter escolhido esta "Menina" para a Escola Nocturna e para todas as escolas afinal...uma Pedagoga anónima ,paciente e terna. Era ela uma das pessoas que ajudavam toda a gente a escrever cartas; no seu maior e menor peso íntimo. O interior dos Correios para além do logotipo do homem da corneta a cavalo, que sempre adorei, tinha dentro o mistério desses contos secretos colados de um cheiro a tinta azul. Todas as cores têm um cheiro diferente como as pessoas. As pessoas também têm aromas diversos consoante a sua cor. Ela era um a espécie de doadora de letras; e de cartas. A sala interior dos Correios apilhava-se de gente a pedir para que ela escrevesse para os seus entes longe, e demais necessidades. Pediam os analfabetos, pediam os que escreviam mais ou menos e pedia toda a gente porque ela tinha asas e penas e era preciso respirar e suspirar tempos de grande paciência par que chegasse a nossa vez;como ser humano ela passaria em momentos a ser quase alada... Éramos às vezes as últimas pessoas, mas no seu atendimento nunca se exteriorizava alguma expressão cansativa ou esgotada. A Menina Judite gostava do que fazia. O pavimento que pisávamos, dos Correios era de mosaicos de grande quadricula branco e preto, a sua forma interior era de um quarto de círculo, onde estava um enorme balcão alto de madeira maçica que chegava quase à porta. Porta envidraçada que se embaciava como um lento nevoeiro (consoante a população dentro do espaço) e balcão pesados inacessíveis para uma criança. Nos dias de chuva, as pessoas que lá se juntavam sabiam a povo e a humanidade; porque a menina Judite não excluía ninguém.Atrás dela estavam sempre imensos embrulhos, ou dos que ela teria de conferir com lacre e selo próprio sobre cordas e cordéis, ou que vinham em nosso nome.Para mim tudo era em papel craft, das cores de outono e folhas amarelecidas ou acinzentadas. Contudo o simples frase: "o meu correio" continha a mesma fidelidade do "correio do Czar", do «Miguel Strogoff» que mais tarde li,-legado de aventuras ficcionais,hoje realizadas partindo desse imaginário do escritor Júlio Verne.
Os selos também apenas iniciaram a ter alguma graça aqueles que vinham do estrangeiro. Os nossos tinham sempre a cara de alguém de quem éramos obrigados a gostar. A mim pediram-me sempre para escrever postais.
Ou de agradecimento ou de condolências. De boas festas, repletos de neves e purpurina, ou de Parabéns. Gesto que adorava. Sentimentos e desejar boas coisas. Escrever endereços e conseguir não me enganar. Uma conquista infantil e poderosa. Ir aos correios, para que eles entregassem longe, ou perto: cartas e pacotes. Milagres também bem vindos a nossa casa, outros nem tanto. Quando os envelopes eram debruados a preto, continham a morte de alguém, coisa que sabia premonitório de lágrimas e tristeza. Sabia também que teria de replicar condolências; que a mim com letra ingénua procuraria cumprir no meu melhor.Se por acaso esta Menina já não estiver entre nós estará certamente no céu onde voam as mais belas aves, e no mais alto dos espaços aéreos.

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