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terça-feira, 9 de março de 2010

Berço de Ouro.


Nasci num berço de ouro porque nascer num berço de ouro, não é de ouro que se trata.

Nascer num berço d'ouro é nascer com pessoas que nos amam à nossa volta. Quase sem berço, mesmo que esse berço seja um caixote de madeira, onde as galinhas chocavam os ovos.

Há populações onde o ouro não tem nenhum valor. E, no entanto não têm água potável.

No séc.XV trocava-se sal por pedras preciosas. Falta-me o J. Gomes Ferreira, sempre para fazer um novo Dicionário de Palavras. Penso que é no seu livro «Aventuras do João sem Medo» que ele explica muito bem tudo isto com a palavra "Humilde"!

Depois de procurar o livro e se ainda o tiver, transcrevo, essa pequena parte, muito importante para mim! Um advogado um dia destes chamou «pobre» à Casa onde nasci; porque não sabe o que são casas vernáculas, casas feitas com as mãos dos homens, trabalhadores artesãos. Com pensamentos sem academismos, sim. Ilíterados, pois claro, mas com definições claras de espaços zenitais, e orientações da Rosa-dos-Ventos. Homens poupados e ergonómicos que conheciam as medidas antropométricas, para o espaço temporal. Homens do colectivo e sem ganância. Que sabem o espaço necessário para a quantidade de batatas que precisariam para todo o ano. Previsões ministeriais...

Então o meu espaço de nascimento, foi nesse bafo dourado, de com ou sem berço de ouro, com um irmão ou dois a quererem espreitar atrás da porta aquele mistério pulverizado de brumas do vapor d'água limpa e quente e fria. Nasci numa casa que hoje querem deitar fora. Querem deitar fora, como se deita fora o cuspo que os homens cospem na rua, e os lixos que os restaurantes agora deitam pelos contentores (até que enfim!), chamam trabalhadores d'outras terras distantes, que preferem tratar, ou destratar disto do que estar na guerra ou nas lutas; e, eles aproveitam e concedem. Concedem, como concediam todas as criadas que vinham trabalhar para a minha terra; e eram criadas, "criadas" como se cria e se queria um cão. Um cão, sim. Não um gato. Elas gostavam; gostavam, como nunca gostaria de ir a Hollywood e espantavam-se com tudo. Lisboa era um espectáculo, com a Fonte Luminosa, com o Jardim Zoológico. E tinham fatos próprios, às riscas, ou às bolinhas. Quanto melhor andassem arranjadas, mais era significante a casa onde pertenciam. Semelhante a uma alegoria. Um ícone. Mas eu andava por todas as casas, como que como o ouro rastejante com que nasci, sem nenhum ouro em nenhum lado; talvez a planta da minha terra que veio de Santa Maria de Belém, tivesse também traçado um tanto arábico, embora em todas as fugas eu encontrasse saída, muros baixos, silvas, e pessoas que sempre julguei serem de família, como as árvores as plantas e os animais, como quem diz: a fauna e a flora. Apenas quando me deparava com as azinhagas tinha de parar; eram os fios condutores de outras terras, como uma fronteira de fadas.
A minha casa já esteve coberta de hera.

Aí passaria por mais incógnitas volumetrias e enganos de riquezas. Como as pessoas quando vestem roupas muito bonitas para taparem outras vicissitudes. Antes disso, já teve chaves do tamanho dos portões das quintas. Mas por outro lado, quase por oposição podíamos deixar a chave na porta. De facto era incómodo andar-se com uma chave daquele tamanho.

O tamanho da chave e o tamanho das luzes eram antígonos. A luz rareava. Mas era um fenómeno de silêncio e sossego porque determinava referências aprazíveis e com uma alternativa. Apenas uma.

1 comentário:

magda disse...

o homem tirou o curso de direito. Mas tal como o outro de que falamos há dias, também este é muito ignorante. Só dos sentimentos?